Torcendo contra o Brasil de Neymar Jr.

18/04/2018 22:02 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O mundo é uma bola. E pensei mais algumas coisas sobre o jogo, as jogadas e o velho jornalismo.  

 

Futebol é entretenimento. Futebol não é assunto para o jornalismo, muito menos para jornalismo investigativo. A imprensa não tem que perder tempo com denúncias envolvendo a bandidagem de cartolas. Também não deve criticar as fartas demonstrações de boçalidade por parte de treinadores medíocres e cabeças de bagre que maltratam a bola. Futebol, amigo, é emoção!

 

No parágrafo acima, está uma síntese do que a Rede Globo entende como ideal na cobertura dos eventos esportivos. Não estou especulando. São fatos. Embora sempre tenha misturado as coisas, nos últimos anos a emissora oficializou a blindagem do futebol, retirando o segmento do alcance do jornalismo. Por que isso? É lógico: o que interessa são contratos bilionários e audiência.

 

Por onde se olha, essa postura é uma desgraceira. E ressalte-se logo que a filosofia da Globo está espraiada por todas as demais emissoras de TV. O mau jornalismo, é claro, não é exclusivo dos meios televisivos, mas é aí que o descaramento enfia o pé na jaca. Nessa toada, ninguém quer encrenca com essa besteira de jornalismo – isso dá trabalho e não rende os dividendos que todos esperam.

 

Um dos sinais mais antigos – e consistentes – da degradação geral é a figura do repórter engraçadinho. Poderia lembrar vários nomes, mas Tadeu Schmidt e Tiago Leifert representam a categoria de modo perfeito. Um palhacinho foi para a novela do Fantástico; o outro se lambuza na porcalhada do BBB. Nos dois casos, trata-se do Padrão Globo de Qualidade. Faz escola.

 

É por isso que, para a Globo, Ronaldo Nazário e Neymar Júnior têm salvo-conduto para suas peraltices. Vejam que, diante de qualquer assunto mais delicado para os dois, lá estão eles dando “entrevistas exclusivas” às celebridades da emissora. No ano passado, descobriu-se que Neymar mantinha contrato secreto com a Globo. É, para dizer o mínimo, uma pilantragem.

 

Uma mostra da safadeza generalizada pode ser vista nas famosas mesas redondas que infestam a programação dos canais especializados em esporte. Chega a ser constrangedor ver comentaristas que atuam como agentes de cartolas, empresários e atletas. Falam como se estivessem fazendo jornalismo, mas estão a serviço da bandalheira. E ainda querem vender a imagem de corajosos.

 

Aliás, a gritaria nos debates é a marca desses programas na TV. Quando vejo um comentarista à beira do enfarte, de tanto berrar em defesa de um personagem ou pedindo a cabeça de outro, não tenho dúvida: é negócio. Outra estratégia manjada é cobrar a convocação de um “extraordinário” talento para a seleção brasileira. Quando você vai conferir o talentoso em questão, é pura fraude.

 

Eis o panorama devastador da tal imprensa esportiva, praticamente sem exceção. Aliás, o termo imprensa deveria ser excluído dessa atividade. Não há jornalismo no meio desse gramado. É só esquema, embromação, mau-caratismo. Em homenagem a tudo isso, ainda avalio para qual seleção vou torcer na Copa. A última alternativa, quase descartada, é o Brasil do bosta do Neymar.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..