Cargo de vice deveria ser extinto

13/04/2018 15:49 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

É tudo ficção no país do carnaval. Durante 24 horas o Brasil tem um novo presidente da República. Com a viagem de Michel Temer ao Peru, para participar da Cúpula das Américas, a ministra Carmen Lúcia dá um tempo no Supremo Tribunal Federal e ocupa o lugar de chefe da nação. Seu mandato, por assim dizer, vai da tarde desta sexta-feira até mais ou menos a mesma hora do sábado.

 

A posse de Carminha no Planalto é, na verdade, uma insanidade entre as muitas que infestam a vida pública e as instituições no país. Após a queda de Dilma Rousseff, ficamos sem vice. Na ausência de Temer, portanto, quem assume é o presidente da Câmara; caso isso não seja possível, a cadeira é ocupada pelo presidente do Senado. Mas um e outro não podem substituir Temer agora.

 

O deputado Rodrigo Maia e o senador Eunício Oliveira, que estão na sequência automática da linha sucessória, também pegaram o avião e partiram em viagens internacionais. Maia foi ao Panamá, enquanto seu colega do Congresso foi bater no Japão. Segundo a legislação eleitoral, os dois estariam inelegíveis neste ano caso assumissem a Presidência da República.

 

Como a dupla é candidatíssima na eleição de outubro – mas não se pode apresentar isso como motivo para não substituir Temer –, inventa-se um passeio pelo mundo. E assim, enquanto Maia e Oliveira fingem ter sérios compromissos lá fora, Carmen Lúcia finge que agora, além de presidir o STF, é também a nova presidente do Brasil. Ninguém segura a comédia brasileira.

 

Quando você recorta um prosaico episódio como este, tem todo o direito de se perguntar sobre os rumos do país. É claro que a presepada não é de agora – o que só piora a avaliação no conjunto da obra. Instituições e autoridades chancelam e participam ativamente de uma encenação como se estivessem num palco exclusivo para canastrões. E ainda esperam por aplausos e bajulações.

 

Não tenho certeza, mas suponho que no Congresso Nacional tramita algum projeto (ou até mais de um) propondo a extinção do posto de vice-presidente. É o que deveria ocorrer. Não serve para nada, a não ser produzir gastos absurdos. Em viagem, o presidente continua a ser presidente, ora essa. Na era da conexão total e instantânea, isso ficou ainda mais escancarado. Nada justifica esse modelo.

 

Mas o fim do cargo de vice não vai ocorrer; seria uma derrota para a política como ela é – e sempre será. Afinal, como poderíamos costurar alianças e barganhar os valiosos postos e os cobiçados salários? Sem falar na influência partidária que representa o ouro no jogo pelo poder. Por essas e outras, dona Carmen Lúcia já está assinando papéis e recebendo visitas na estreia como a Manda Chuva Número 1 da República Brasileira. Ainda que tudo isso não seja nada além de nada mesmo.

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