Um morador da Massagueira é o protagonista de um episódio que ilustra de modo acachapante a miséria da política. Por tabela, ele também expõe à perfeição o nível de nossos gestores no comando da máquina pública. Sem querer, Washington Francelino, que trabalha como vendedor em um supermercado, dá uma aula desconcertante ao Brasil. Parece exagero, mas é precisamente isso o que ocorre ali, no povoado que pertence ao município de Marechal Deodoro.       

 

Descobri a história pela TV Pajuçara, numa reportagem do jornalista Lucas Malafaia. Resumindo o que o repórter conta, na Massagueira não existem placas com os nomes das ruas; em alguns locais, as placas que existem estão apagadas; e em outras situações, ainda mais absurdas, as ruas não têm nome oficialmente registrado. Resultado: a população sofre até para pedir um remédio à farmácia, porque entregadores têm dificuldade para localizar o endereço. Alagoas no século 21.

 

Ainda segundo a reportagem, Washington tenta resolver o problema faz muito tempo – porque as consequências são realmente pesadas. As correspondências também não chegam às casas, assim como os recibos de água e energia. Outro morador conta que precisa ir buscar sua conta de energia na Eletrobras. Ou seja, a negligência escandalosa da prefeitura de Marechal provoca um gravíssimo transtorno para famílias que são tratadas como se ali não residisse ninguém.

 

Aí vem a iniciativa surpreendente do funcionário do supermercado. Incomodado com a aberração oficial, Washington tentou, primeiro, uma resposta pelas vias formais. Bateu na porta da prefeitura para reivindicar uma solução para o caso. Fez isso várias vezes, e nada. Até que desistiu de esperar pelas autoridades competentes – que provaram, neste caso, que temos de tudo aí, menos competência. Então ele teve uma ideia para acabar com a dor de cabeça de 12 mil habitantes.

 

O morador mapeou todo o povoado. Segundo seu levantamento, são 60 ruas. Em seguida, com dinheiro do próprio bolso, produziu as placas. Para afixar cada uma, em muros e imóveis, ele mesmo sai de bicicleta, carregando uma escada e o equipamento necessário na realização de sua inusitada tarefa. Nos casos de locais sem registro de nome, Washington reúne os moradores que, numa espécie de assembleia, democraticamente escolhem qual será a identificação.

 

E a prefeitura? A reportagem foi ouvir as explicações. De cara, não entendi por que o escalado para falar foi o secretário de Articulação Política. De todo modo, Luciano Vasconcelos botou tanta dificuldade para resolver a encrenca, deu tantas desculpas, que pelos meus cálculos a prefeitura planeja levar uns dez anos de estudos para cumprir sua obrigação. O homem falou até em satélite. Se o ritmo for o mesmo para todas as demandas de Marechal, a coisa tá feia por lá.

 

Massagueira é um lugar extraordinário, com uma paisagem descrita por todos, com justiça, como das mais bonitas em Alagoas. Também por isso, é o destino de ricaços nos fins de semana, que vão desfrutar de suas águas e da culinária. Imagino que o prefeito, que nem sei quem é, deve curtir isso tudo, com amigos e parentes, na hora do lazer. Sugiro que preste atenção nas ruas.

 

E quanto a Washington Francelino, deveria ser convidado a dar palestras para aspirantes a gestor e candidatos a executivo. Tem muito a ensinar sobre ação política, potência do indivíduo na sociedade e exercício direto de cidadania. Sua mensagem principal, me parece, tem a ver com o alcance de uma iniciativa que, isolada, vai muito além da vontade de um homem só. Parabéns pra ele.