Reparem como é a política. O sujeito que mais atira em Luiz Inácio Lula da Silva ficou um tanto preocupado após a prisão do petista. Sim, ele mesmo, Jair Bolsonaro estaria meio triste com o ex-presidente fora do jogo eleitoral. Qual é o drama? O presidenciável que prega violência e distribui preconceitos se sente órfão de seu alvo preferencial. Bolsonaro precisa desesperadamente de um inimigo. Essa é a sua lógica existencial – que ele aplica igualmente ao campo da política.

 

Se age de tal forma, certamente achou no eleitorado aqueles que também precisam babar de ódio para alimentar seus ideais de vida. Afinal, é com essa postura que ele enfeitiça até agora legiões de celerados que amam pulverizar tudo aquilo que lhes parece oposição. Curiosamente, como já anotei aqui, a filosofia do brucutu foi adotada por segmentos que pregam o fuzilamento enquanto clamam por Jesus. A prevalecer seus valores, teríamos uma espécie de teocracia armada.

 

Uma mistura de fanatismo e ignorância embala seus seguidores. Para defender ideias tresloucadas, recorre-se à histeria no discurso e ao primitivismo na hora de listar propostas. Em sua mente perturbada, o candidato resolve tudo na base do grito e receitas fáceis. Faz sentido. É o caminho que dispensa a complicadíssima operação que é pensar. Para sacar o fuzil e mandar bala, basta querer. É o Bolsomito. Para ele, governar o país seria tarefa mais afeita ao campo da mistificação.

 

Um dos sinais evidentes de que essa visão de mundo se alimenta da intolerância mais radical é a exaltação da ditadura militar. Seus seguidores acreditam pra valer que o Brasil foi muito melhor no regime das botinas e dos assassinatos de adversários. O que faz alguém, no pleno funcionamento do juízo, pregar tamanha obscenidade? Essa rapaziada chega a fazer piada com a barbaridade que tirou a vida da vereadora Marielle Franco. É a civilização desses crentes.

 

Sempre houve simpatia por ideias idênticas às de Bolsonaro. O sucesso de programas de TV nos quais dublês de jornalista pregam a pena de morte está aí há décadas. Bolsonaristas adoram Datena e outras vigarices de mesmo padrão. Isso sem contar a carga explosiva de insulto contra mulheres, negros, homossexuais etc., como se pode constatar em farta antologia registrada pela imprensa e na Internet. É com esse conjunto da obra que o fanfarrão pretende “dar um jeito” no país.

 

Com o inimigo favorito fora de combate nas urnas, a milícia do Jair vasculha o cenário à procura de novo alvo para oxigenar sua mórbida respiração. Não tenho candidato a nada, mas certamente há na praça alternativas à degradação definitiva, que seria o triunfo da tranqueira. Torço para que o bolsonarismo se mantenha nas sombras – que é o devido lugar de toda e qualquer seita.