Deus é de direita, Jesus é de esquerda

01/04/2018 01:45 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Se não me engano, escrevi outro dia neste espaço que, diante de algumas manifestações na guerra política atual, ficamos com a impressão de que Deus é de direita. Digo isso porque, de uns tempos pra cá, grupos organizados na militância ideológica recorrem com frequência aos mandamentos do Senhor para defender seus pontos de vista. Até aqueles que rezam e fazem promessas – para ter o direito de andar armados – dizem falar em nome do Altíssimo. Pode isso, camarada Coelho?

 

Antes que continue, lembrarei o óbvio. Sim, estamos vivendo o período da Páscoa, acabamos de fechar a Semana Santa. Ocorre que todo esse labafero diz respeito ao Cristianismo – ou seja, estamos falando de uma seita específica, com algumas correntes dominantes, como o Catolicismo. Uma multidão de seres humanos mundo afora, porém, tem outras preferências no campo da mitologia e do sobrenatural. Nem todos celebram suas divindades em volta da mesa, com sururu e chocolate.

 

Feito o registro da obviedade histórica, retorno ao ponto. Se o Todo-Poderoso tem sido assediado para se filiar às correntes direitistas, Jesus Cristo é alvo do mesmo tipo de assédio – mas para se juntar aos fiéis da esquerda. Prova disso é que, durante esses dias de procissões e retiros, vi um bocado de textos associando o filho de Maria ao delírio utópico de uma revolução nos moldes russos ou cubanos. Nesse caso, deve-se reconhecer que os argumentos capricham no quesito bom humor.

 

Li algo mais ou menos assim: Jesus veio ao mundo na mais absoluta pobreza, como um representante legítimo das minorias, e se tornou um inimigo dos poderosos, ao defender os despossuídos. O cara foi um subversivo, na plenitude do conceito de subversão. Decidido a derrubar o sistema controlado pelas classes da elite, montou uma guerrilha no campesinato e tramou um ataque à “burguesia” daquele tempo. Foi traído por um fascista infiltrado, e acabou como sabemos.

 

Se Deus é de direita, e Jesus partiu para a esquerda, temos um dilema infernal. Mas, pensando bem, até que há alguma lógica na situação aparentemente paradoxal. O que estaria em jogo é a eterna crise na relação entre pai e filho, quando o jovem rebelde não mais se conforma em seguir o velho – um senhor autoritário, acomodado com aquela vidinha um tanto reacionária. Na verdade, estou fazendo especulações na tentativa de entender o racha político que ameaça até o governo do Céu.

 

Como Deus é uma invenção do homem, temo que a qualquer momento o MDB seja convocado para apaziguar as diferenças entre as alas. Já prevejo coalização ampla, agregando desde os mais xiitas, passando pelos socialistas morenos, até os crentes mais moderados. O perigo são as técnicas de persuasão sempre usadas nessas horas de acirramento. Sem acordo, cada um interpreta a seu modo a Constituição do Além, ou seja, a Bíblia. Enquanto isso, na moita, o Capeta corre por fora.

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