Rui Palmeira e Renan Calheiros – e todos os lados que um político é capaz de escolher

28/03/2018 03:30 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Pela contundência das palavras, suponho tratar-se de uma estratégia devidamente planejada, até mesmo a partir de informações obtidas em pesquisa. Refiro-me à resposta do prefeito de Maceió, Rui Palmeira, sobre eventual aliança com o senador Renan Calheiros. Aliança que jamais haverá, segundo disse Rui, com bastante ênfase, em duas entrevistas, num intervalo de 24 horas.

 

Como informa este site, ao falar sobre candidaturas ao governo estadual e ao Senado, o prefeito de Maceió afirmou o seguinte: “O PSDB tem um lado, e nós estaremos sempre do lado oposto ao do senador Renan Calheiros”. É uma declaração cujo propósito é firmar posição clara sobre a guerra nas eleições de agora. Mas o próprio Rui sabe que, para além disso, em política nunca é assim.

 

Ao contrário do que garante o prefeito, na lógica da política, tudo é possível. O seu partido, o PSDB, é parceiro histórico do velho MDB de Renan. A partir dos anos 1990, o senador de Murici e o ex-governador Teotonio Vilela Filho ganharam a fama de “irmãos siameses” – o emedebista e o tucano venceram eleições sucessivas jogando numa tabelinha cheia de entrosamento.

 

No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência (1999-2003), Renan foi nada menos que o ministro mais forte do governo comandado pelos tucanos. Enquanto isso, na mesma época, Téo Vilela era senador e um dos caciques do PSDB. Ou seja, os dois partidos estavam mais unidos que nunca. Parece claro que as duas siglas têm mais afinidades que diferenças.

 

Nem é preciso muito esforço para lembrar de casamentos que, antes da troca de alianças, ninguém acreditava que pudessem ocorrer. Na eleição de 2002, Ronaldo Lessa e Fernando Collor trocaram “elogios” que as boas regras de etiqueta me impedem de repetir aqui. Em 2006, na eleição para o Senado, reviveram a dose. E não é que em 2010, a dupla selou parceria inesperada!

 

E o que dizer das alianças dos governos do PT com políticos como Sarney e Maluf? Haveria algo mais incompatível que Lula e os ex-coronéis do Maranhão e de São Paulo? Para ganhar eleição e, depois, para governar, as divergências ideológicas, por mais profundas que sejam, ficam na gaveta. Em nome do chamado pragmatismo, a política desconhece princípios e até dogmas. É por isso que historicamente, em Alagoas, o PC do B foi um aliado recorrente do hoje senador Collor.

 

E do mesmo modo que não existe ódio eterno entre partidos e políticos, vale a mesma lógica para as juras de fidelidade nos casos de amor roxo. Foi assim com Téo e Lessa. A aliança que parecia uma rocha entre os dois acabou nos meses iniciais de 2007, no primeiro mandato do tucano como governador. Foi quando Téo denunciou que herdara um “rombo” nas contas deixadas pelo governador que o antecedera – Ronaldo Lessa. Uma mera circunstância pode mudar o “impossível”.

 

Volto às declarações de Rui. O tucanato comanda a prefeitura da capital. A família Calheiros, com o pai e o filho, chefia a gestão estadual. É óbvio, por isso, que os dois grupos estejam com a faca nos dentes, agora em campos opostos. Mas não, PSDB e MDB podem sim estar no mesmíssimo lado – se não amanhã, quem sabe na eleição de 2020 ou na de 2022. Essa é a dialética orgânica no jogo do poder. E é nessa perspectiva que as duras palavras de Rui sobre Renan devem ser entendidas.

 

No mais, é a campanha eleitoral que já começou, em todos os lados.

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