A cada quatro anos temos um encontro com um Brasil gigante, potência universal única em suas qualidades incomparáveis, bonito por natureza. Um país como este, claro, é habitado por um povo singular, “guerreiro”, cheio de lições valiosíssimas para o resto do planeta. É o Brasil das publicidades sobre a Copa do Mundo, o país da fantasia forjada por agências de propaganda, com orçamentos e cachês milionários para celebridades, jogadores e técnico da seleção brasileira de futebol.
Para se produzir uma propaganda eficiente, como sabem os craques do setor, é preciso caprichar na receita de cretinice. O primeiro passo é a escolha dos ingredientes, matérias-primas facilmente encontráveis em qualquer lugar. Criancinhas, paisagens de cartão-postal e trilha sonora sentimentaloide, por exemplo, não podem faltar numa boa peça publicitária. Mas o melhor de tudo é o texto. Todo anúncio de peso, como os da Copa, tem aquela pegada “literária” e “filosófica”.
A menos de três meses para o início dos jogos na Rússia, as campanhas que promovem os patrocinadores da Copa já estão no ar. Cada uma dessas peças sintetiza e reitera a essência da publicidade – que é uma depravada falsificação da vida real. E essa operação ainda se apresenta com ares de refinamento intelectual. O melhor (no caso, o pior) exemplo na atual temporada é a propaganda do banco Itaú, que usa o treinador Tite como grande astro. É uma aula de mistificação.
Na campanha do banco, os mágicos da agência publicitária se superaram. A sacada foi usar como texto os fragmentos de entrevistas do próprio Tite – epigramas que revelam a originalidade na cabeça de um notável pensador. O comercial simula uma preleção do técnico antes de o time entrar em campo. Mas o time que se vê não é a seleção, e sim o povo brasileiro. Nessa publicidade, a sabedoria epigramática do professor Tite nos ensina o caminho ideal para o sucesso e a felicidade.
Neymar Jr., o boçalzinho de cabeça oca, também estrela anúncios para, no clima do futebol, vender de tudo, de sabonete a cachaça. No caso do atacante, a mensagem de autoajuda de Tite dá lugar a promessas de força e beleza. Muda o enredo, mas o grau de farsa é rigorosamente igual – porque será sempre isto uma publicidade. Bom, todos sabemos como acabaram as macaquices ufanistas de Felipão como garoto-propaganda em 2014. O Brasil brasileiro adora uma goleada.