O procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, é simpático à pena de morte e defende que você tenha o direito de portar uma arma para enfrentar os bandidos. É o que ele diz em entrevista ao meu colega aqui do lado, o jornalista Luis Vilar. Considero as duas ideias pra lá de equivocadas, na contramão do que se entende como civilização. (Não se engane, a plataforma patriótica de Jair Bolsonaro tem seguidores também na gloriosa elite).
Não sou especialista em pena de morte e armamentismo, ao contrário do chefe do Ministério Público, um craque nos dois assuntos. Darei palpites. Primeiro, trato de outra declaração do procurador na mesma entrevista. Ele reclama da imagem que a população tem das “forças de segurança”. Vê uma campanha contra as polícias, algo decorrente, segundo ele, dos vinte anos de ditadura militar. Ou seja, há uma rejeição ao policial por culpa dos abusos nos governos fardados.
Faz todo sentido. Aliás, o diagnóstico de Alfredo Gaspar é algo batido na literatura a respeito do tema. Não há novidade nesse entendimento. Ocorre que o diagnóstico do procurador ficou pela metade. Faltou dizer que a filosofia dos trogloditas da polícia, com ou sem farda, mudou pouco, mesmo depois de mais de trinta anos do fim da ditadura. Nos quartéis, a coisa é mais grave.
No regime ditatorial, a jagunçada do Exército que agia acima da lei recrutou parceiros nas polícias estaduais (civis e militares), espalhando a rede de jagunços em todos os quadros dessas instituições. Isso fincou raízes que parecem intocáveis até hoje. O país mudou, mas a formação das tais forças de segurança continua ditando a mesma metodologia daquele tempo de trevas: “prende e arrebenta”.
Há exemplos pelo país inteiro, mas vamos ficar com o caso Alagoas. Pense em quantas vezes você leu, nos últimos anos, a seguinte manchete em nossa imprensa: “Bandidos morrem em troca de tiros com a polícia”. A recorrência desse tipo de notícia daria uma enciclopédia. O danado é que os mortos estão sempre na periferia, são miseráveis e pretos. Números oficiais provam o que digo.
Não sei por que essas operações nunca ocorrem nos bairros dos endinheirados, dos filhinhos de nossa elite, das coberturas à beira mar, nos arredores dos poderosos. Não. A bandidagem está na beira da lagoa e nos confins do Benedito Bentes. Lamento, mas a pena de morte existe sim no Brasil. E suas vítimas estão nessas populações que acabo de citar. Por isso, o povo tem medo da polícia.
O chefe do MP estadual diz que seria favorável à pena de morte “se os grandes corruptos fossem os primeiros a serem executados”. A afirmação revela apenas uma ideia populista, mas vamos levar a sério: e depois dos primeiros, doutor Alfredo, quem o senhor condenaria a partir da segunda lista de fuzilamento? (A propósito, o procurador é mais candidato do que nunca na eleição que vem aí).