Vídeo de Renan Filho em Girau do Ponciano irrita ministro Maurício Quintella. Isso aí é o título de uma notícia publicada por este portal na manhã desta quinta-feira. Se você ainda não leu, recomendo que o faça, pois estamos diante de algo até mesmo pedagógico. O episódio é uma verdadeira aula de como os políticos fazem política – dos tempos remotos até os dias atuais.

 

A gravação é uma peça publicitária do governo nas redes sociais. Renan Filho aparece ao lado do prefeito do município, David Barros, e do secretário estadual de Transportes, Mozart Amaral. Os três exaltam as obras de uma estrada que, segundo as palavras do governador, é “um sonho antigo” dos moradores da região. Pelo discurso, tudo graças ao investimento do Estado.

 

Maurício Quintella ficou bem magoado com o que viu. Prova disso é que o ministro dos Transportes, mesmo com tanto trabalho no cargo, correu ao Instagran para expressar sua insatisfação com o governador e com o prefeito. Seu argumento é simples: parte dos recursos para as obras da rodovia foi obtida por ele, por meio de emenda parlamentar no orçamento da União.     

 

Desabafa o elétrico ministro: “Destinei R$ 2,5 milhões para essa obra; da próxima vez me convidem para a visita”. Renan Filho usou a mesma ferramenta virtual para responder: “Desde o lançamento da obra que almejo sua presença. Não faltará oportunidade”. Bem ao seu estilo, o governador ainda festejou a “parceria” com o ministro que sonha em ser senador.

 

Lá em cima, falei em pedagogia. O que esse diálogo construtivo entre caciques políticos nos ensina? Na verdade, o caso nos faz lembrar do velho conceito de curral eleitoral. O estado é dividido em territórios pelos que se acham donos de cada região. O que está em jogo aí é o voto do eleitorado. Houve um tempo em que pedir voto no curral alheio acabava até em morte.

 

Um pouco mais civilizados do que seus antepassados, os donos do poder agora trocam a bala pelo teclado. Não deixa de ser um avanço saudável em nossa tradição de pistolagem. Mas o coração do fenômeno é rigorosamente o mesmo de antigamente: obras públicas, tocadas com o nosso dinheiro, servem para a pior politicagem. A mágoa do ministro é passageira, afinal, como disse o governador, são parceiros. E os parceiros, no fim das contas, acabam se entendendo.