A prefeitura de Maceió está livre para obter o empréstimo que viabilizará o projeto de revitalização da orla lagunar da capital. Finalmente o Tribunal de Contas do Estado liberou a tal certidão que o prefeito Rui Palmeira esperava havia mais de três meses. Como se sabe, no fim do ano passado Rui acusou a presidência do TC de emperrar deliberadamente a emissão do documento. Se, como disse o prefeito, era só isso o que faltava para destravar o empréstimo e começar o projeto, agora não falta mais nada. Cabe à prefeitura então fazer a sua parte, como espera a população.

 

Ressalto que se trata de fato de uma empreitada grandiosa. Foi uma das principais promessas do prefeito na campanha de sua reeleição. O cenário em toda a extensão à beira da lagoa, numa faixa que vai da área da Cambona até o Papódromo, desafia o poder público há quase quatro décadas, desde a inauguração do Conjunto Joaquim Leão. De lá para cá, a região foi ocupada por outros conjuntos residenciais e invadida por construções irregulares e favelas. A prefeitura anuncia saneamento, novas pistas, creches e escolas, entre outras benfeitorias para os moradores do local.

 

No fim dos anos 1980, algo parecido com a promessa de Rui foi tentado ali. Houve a remoção de moradias ilegais e os ocupantes foram transferidos para residências populares. O lugar ganhou uma ciclovia e pontos comerciais, incluindo bares e restaurantes. A partir do fim da tarde, era bastante agradável passear pelo calçadão e tomar uma cerveja em alguma das barracas instaladas. Além dos moradores do pedaço (como eu), gente de outros bairros aparecia para conhecer a exótica “Pajuçara 2”. Tirando esse apelido horroroso, no mais estava tudo certo.

 

Mas durou pouco, quase nada. Acho que em no máximo dois anos tudo havia sucumbido ao abandono das esferas públicas. Na década de 1990, uma nova tentativa de revitalização mal saiu do papel. A ocupação ilegal e desordenada recomeçou em dimensões bem maiores do que havia. Desde então, o lugar ganhou fama de violento, sendo classificado pela imprensa como reduto do tráfico de drogas, constantemente invadido pela polícia para matar negros e miseráveis. Exatamente como faz a polícia nos bairros da periferia da capital.  

 

Enfim, ali tem história. Agora é com Rui Palmeira. Não tenho dúvida de que se trata de um dos maiores desafios da atual gestão, talvez até o maior de todos. Para tirar sua promessa de campanha da maquete, espera-se que o prefeito demonstre a mesma disposição e espírito de briga que apresentou diante do Tribunal de Contas. Afinal, compromisso é compromisso. Vamos cobrar.