Disfarçada de novidade, a repetição é a regra no velho debate político. Por isso, toda vez que leio mais uma notícia nas manchetes, com destaque para declarações impactantes e personagens desenvoltos, comento junto ao nada: acho que já vi isso outras vezes. Sobram exemplos do que falo, mas penso agora nas recentes entrevistas de Marcelo Freixo e Guilherme Boulos. Que dupla!

 

Freixo é deputado estadual no Rio de Janeiro. Perdeu a disputa pela prefeitura carioca nas duas últimas eleições, em 2012 e 2016. Sua figura foi retratada em Tropa de Elite, o filme de José Padilha que mostra polícia, política e bandidagem trabalhando em conjunto pela mesma causa. Filiado ao PSOL, o parlamentar reivindica para si o lugar do radicalmente novo.

 

Boulos, o outro personagem, é o líder do MTST, a organização que atua com ocupações permanentes de prédios abandonados em São Paulo. De família endinheirada, o comandante dos sem-teto na capital paulista veste o figurino do revolucionário que rejeita sua origem e troca de classe social. Parece fantasia? É o que dizem do ativista que, também ele, veio para renovar.

 

Os dois trouxeram ao noticiário dos últimos dias um desses dilemas que vão e voltam eternamente no debate público. Afinal, o que falta para a esquerda superar as divergências de tantas correntes e trabalhar em união? O drama atravessa praticamente toda a história da República. Numa entrevista, Freixo esnobou a alternativa de união das esquerdas. Contrariado, Boulos reagiu.

 

Um sinal de que estamos diante de uma pauta requentada e de um pensamento defasado está no palavreado que toma o ambiente de assalto. De repente, voltamos ao drama que a política encenou tantas outras vezes: “as esquerdas só se unem na cadeia”. É uma falsa polêmica, igual a tantas que desaparecem horas depois de incendiar a chamada opinião pública.       

  

Freixo e Boulos deliram com a possibilidade até de disputarem a eleição presidencial. Os dois, portanto, brigam em tese pela mesma faixa de atuação partidária, com suas diferenças mais de aparência do que de princípios. Se os candidatos da velha direita para presidente assustam em quase tudo, os nomes da nova esquerda já entram em campo olhando para trás.