Na virada para 2018, a imprensa nacional tratava o indulto natalino, que existe desde a pré-história do país, como uma verdadeira bomba de consequências inevitáveis e danos irreversíveis. Parecia que um decreto presidencial havia aberto as celas de todos os presídios, de norte a sul, presenteando com a liberdade os bandidos mais sanguinolentos da pátria.
O clamor pela denúncia contra o indulto incendiou as redações, as reportagens e as colunas de opinião. Dando voz ao fanatismo justiceiro, o jornalismo pressionou as instituições. E deu resultado. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recorreu ao STF para derrubar pontos do decreto. Enquanto isso, os dias passavam, entre o 25 de natal e o 31 do novo ano.
Caíram os pontos escandalosos do indulto, você sabia? Por decisão da ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, o decreto de Michel Temer foi barrado em seus artigos mais odiosos. Venceu a bandeira de combate à corrupção, como apregoa o time de mocinhos valentes do Ministério Público Federal. A ação rápida do Supremo confirmou o circo.
No campo do poder e da política, o indulto foi a notícia mais explorada pela imprensa. E sempre num tom de gritaria, histerismo mesmo, para turbinar um assunto raquítico. Mas como é para sambar no esqueleto do morto – o presidente Temer –, então é fácil justificar o carnaval em cima do nada. Para completar, a abordagem fica girando em torno de irrelevâncias e não sai do lugar.
Reportagens viram tanto perigo no famigerado decreto que o país parecia à beira de uma convulsão. Em uma semana, tudo acabou. No momento em que escrevo, o assunto não aparece mais em praticamente nenhum veículo. Refém de procuradores e juízes, a pauta já nasce contaminada pela irracionalidade dos salvadores da nação. Não é uma ditadura do Judiciário. Mas está perto.