Um dos problemas do Brasil é que vivemos em permanente clima eleitoral. É uma eleição a cada dois anos. E no ano em que não há disputa por voto, como este 2017, o mesmo clima toma conta de tudo a partir do segundo semestre. Ou seja, a expectativa pela eleição do ano seguinte contamina os dias atuais, como se todos fossem às urnas já amanhã.
O resultado dessa loucura coletiva no meio político é que gestores passam a agir exclusivamente em função da competição eleitoral – mais de um ano antes da data marcada para as urnas. Vejam o que ocorre com o prefeito de Maceió, Rui Palmeira. O homem está sendo praticamente torturado em praça pública para assumir – agora – a candidatura a governador.
O detalhe dramático é que a pressão sobre o prefeito vem dos aliados. Pelo menos em tese. Tem gente dando entrevista todo dia na imprensa, forçando a barra sem limites. Outros, é claro, recorrem às redes sociais e gravam vídeos para fazer a mesma cobrança. É como se fosse uma questão de vida ou morte ter uma decisão de Rui Palmeira, de preferência, para ontem.
Com variações de estilo e gradações na ênfase dos apelos, o tom das manifestações tem um padrão. No geral, pode-se dizer que o prefeito é alvo de uma ostensiva chantagem emocional. Virtuais candidatos a cargos no legislativo jogam nas costas de Rui o destino de todo um grupo. Daí porque alguns recorrem a apelos quase desesperados, do tipo “ou decide logo ou partimos pra outra”.
Já no governo estadual, que terá Renan Filho em busca da reeleição, a pressão é por reforma no secretariado e mudanças onde for possível mudar. Ou seja, tem-se um frenético carnaval de cadeiras em que a moeda de troca – valiosíssima – são os cargos em todos os escalões. E aí também o governador se torna refém das demandas eleitorais, com uma antecedência absurda.
Como já escrevi em texto anterior, penso que Rui Palmeira deveria completar seu mandato na prefeitura, que se encerra em 31 de dezembro de 2020. A disputa pelo governo em 2018 me parece uma aventura com todos os ingredientes para dar errado. Suspeito que o mais racional seria ter um pouco de paciência e esperar 2022 para disputar o comando do Estado.
Mas não será assim, a julgar por tudo o que se fala entre os interessados em ter o prefeito como candidato já em 2018. O certo é que ele está com a faca no pescoço, sendo praticamente obrigado a mergulhar na candidatura a governador. Pode dar certo, sim, mas a perspectiva é de um páreo duríssimo. É uma aposta bem alta – e imprevisível. E o prefeito sabe disso.
A situação é tão tensa que, talvez por essa razão, suponho que Rui evite o assunto. Fala o menos possível – e quando não há escapatória. Seja como for, temos aí a máquina estadual e os rumos do município atrelados a uma fixação insana no calendário eleitoral. E tudo isso num ano em que o calendário não prevê eleições. É ou não é uma dessas loucuras tipicamente brasileiras?