Candidatos que não deveriam existir

20/10/2017 17:10 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A eleição legislativa de domingo (22 de outubro) é vista como crucial para a sobrevivência de lideranças e mesmo para os rumos do país. Falo da Argentina. A pátria do maior jogador de futebol do mundo convive com atores políticos à altura de nossos melhores piores momentos, aqui no Brasil. Trato do assunto por causa de Cristina Kirchner, a ex-presidente que tenta se eleger senadora.

 

O drama é o seguinte: depois de exercer o cargo de presidente da República, é razoável que o político mantenha uma atividade partidária como qualquer outra figura pública? E, além disso, é recomendável que um ex-presidente dispute outros mandatos, para cargos naturalmente abaixo da Presidência na estrutura de poder? Não vejo argumentos convincentes para isso.

 

Vamos pensar nos casos nacionais. Depois da redemocratização, José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco foram três presidentes que, encerrados os mandatos, voltaram às disputas miúdas, percorrendo periferias e povoados, negociando tudo o que se negocia, para garantir um novo cargo. Os fatos mostram que a volta à política diminuiu a biografia dos três.

 

Parece uma questão também de lógica acachapante. Quem já esteve no topo do poder político, com as prerrogativas plenas que o cargo de presidente confere, o que fará de novidade como deputado, senador ou governador? A experiência brasileira revela que o saldo não vai além da irrelevância. Nesse jogo menor, a Presidência da República também sai diminuída.

 

Mas o próprio Brasil tem o exemplo do que parece ser o melhor caminho. Fernando Henrique Cardoso prova que lugar de ex-presidente não é correndo atrás de voto. Distante das carnificinas eleitorais, FHC não conheceu o desgaste biográfico que atingiu seus antecessores na cadeira presidencial. Nessa condição, preserva a própria imagem e se mantém num protagonismo especial.

 

É a tradição sul-americana. Assim como nos demais países do continente, em diferentes épocas, lá está a senhora Kirchner berrando pra todo lado, trocando acusações e achincalhes com adversários, em busca de uma cadeira de senadora. Até um dia desses, era a magistrada número um da nação, a presidente da Argentina. É claro que isso é ruim para o país e para ela também.

 

O ideal parece estar na realidade americana. Um ex-presidente retornar às batalhas eleitorais é uma hipótese inimaginável. Retrato mais bem-acabado de uma democracia moderna, os Estados Unidos não têm dúvida sobre o papel de um ex-chefe da nação. São tratados como estadistas, na plenitude do termo. E estes se comportam com a devida sobriedade que tal condição impõe. 

 

Estamos bem longe disso. Em 2018, haja o que houver até lá, ex-presidentes devem aparecer com o nome na urna. E esse é um dado que, reitero, acaba por banalizar a instituição da Presidência da República. A sede pelo poder explica, em boa parte, a resistência de uma tradição nefasta.

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