200 anos num sábado de sol

16/09/2017 12:48 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O que escrever sobre os 200 anos de Alagoas? Terra da cana-de-açúcar, dos coronéis da política, dos crimes de pistolagem e das oligarquias. Aqui também é o paraíso de uma elite que transita entre a ignorância e a corrupção. Mas essas memórias talvez não caiam muito bem, afinal a data é festiva, como informa a programação oficial cheia de eventos.

Quem sabe o recomendável seja falar do sentimento de alagoanidade. O palavrão ganhou até status de categoria sociológica, segundo o que pensam alguns nomes da nossa produção cultural e acadêmica. Há pouco mais de dez anos, artistas, professores e jornalistas passaram a defender essa ideia como alguma coisa realmente séria. Houve até um manifesto para patentear o rebuscado conceito.

Do mesmo jeito que não acredito em mineirice ou em espírito carioca, as supostas particularidades de um alagoanismo não me parecem convincentes. Entre outras razões, porque a exaltação de qualidades supostamente especiais, nesse campo, tende para certo ufanismo, o que acaba, naturalmente, turvando nossas opiniões sobre a realidade.

Os teóricos da alagoanidade, ou qualquer coisa do tipo, acabam sendo mais patriotas do que pensadores da cultura. É normal. Quando se analisa um fenômeno a partir de princípios assim, não teremos análise, mas apenas doses descontroladas de militância. Para quem não consegue respirar sem uma infalível dose de engajamento político, está de bom tamanho. Por aí, somos um povo de origens singulares.

Na data comemorativa, ninguém escapa do carnaval de imagens publicitárias e da ladainha que exalta as belezas naturais e os grandes vultos da terra. Numa festa dominada pela versão chapa-branca da História, as contradições e mazelas desaparecem na cobertura da imprensa. Também é natural que assim seja. Não gostamos de falar de problemas quando a ordem geral é comemorar.

Mas não quero aqui incentivar o negativismo frente ao bicentenário das Alagoas. Isso nunca. O sábado amanheceu ensolarado. Você pode tirar proveito do clima quente e celebrar a data a seu modo, em algum recanto acolhedor ou instigante. Afinal, são dois séculos de emancipação. Tudo é permitido. Ou quase. Não precisa cantar o hino.

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