A situação começou a degringolar na reta final dos anos de 1990. De lá para cá, Alagoas jamais conseguiu encaixar uma política de segurança pública digna desse nome. Ao longo de quase duas décadas, o estado bateu várias vezes a taxa nacional de homicídios, o que fez nossa região aparecer em manchetes mundo afora, com uma frequência nunca vista antes. Maceió foi para o topo na lista das cidades mais violentas do planeta.

Nesse período, todos os governos, incluindo o atual, conviveram com uma epidemia de assassinatos praticamente intocável. O quadro atual continua gravíssimo. Breves momentos de mínima redução nos índices são rapidamente sucedidos pelo recrudescimento da matança.

A verdade é que, nesse campo, autoridades batem cabeça e não conseguem nada além da reciclagem de velhas receitas, quase sempre baseadas em ações de força e de operações carnavalescas. Diante do tradicional discurso de gestores da segurança, temos uma boa pista sobre as razões do fracasso permanente.

No palavrório, secretários de segurança e dirigentes de polícia adoram exaltar o “trabalho de inteligência”. A realidade mortal, porém, denuncia que isso não passa de slogan para a propaganda oficial. Preocupados mais com a aparência e menos com os fatos, gestores tendem a fantasiar números e resultados.

Creio que uma das causas crônicas da crise que não arrefece é a calamitosa formação das forças policiais. No essencial, os comandantes de hoje, militares e civis, pensam como nos tempos medievais de seus heróis de antigamente. Reproduzem o mesmo modelo de um coronel Amaral ou de um Rubens Quintela, duas figuras emblemáticas da filosofia “bandido bom é bandido morto”.

O caminho demagógico do “prendo e arrebento” seduz até personagens que, em tese, deveriam ter uma cabeça mais arejada. Foi o que se viu nas ocasiões em que membros do Ministério Público exerceram o cargo de secretário de segurança. Atuaram com ideias tão bizarras, que pareciam homenagear os piores delegados do passado.

A política de linha dura defendida por esses senhores é – para usar um termo da hora – seletiva. A três por quatro, a polícia anuncia a “ocupação de áreas violentas”. E qual o resultado infalível dessas investidas? Limpeza geral entre a população das periferias e grotas da capital. Os suspeitos de sempre – negros e pobres – entram na linha de tiro do Serviço de Inteligência. Não dá.