O casamento da esquerda com a direita

12/09/2017 11:48 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Uma exposição de arte em Porto Alegre foi encerrada, um mês antes do prazo estabelecido, porque cretinos de direita se disseram escandalizados com as obras. A obediência aos protestos foi do próprio organizador do evento, no caso, o banco Santander. Responsáveis pela exposição chegaram a pedir desculpas a quem eventualmente tenha se sentido ofendido pelos trabalhos apresentados.

Em maio passado, o Festival de Cinema de Pernambuco foi adiado porque cretinos de esquerda se revoltaram contra um dos filmes da programação, o documentário O Jardim das Aflições, sobre o filósofo Olavo de Carvalho. Cineastas retiraram suas obras, sob a estúpida alegação de que o documentário era uma peça de divulgação de ideias reacionárias. Um dos mais aguerridos idiotas chegou a dizer que o filme em questão “nem deveria existir”. Típica expressão da esquerda democrática.

Os dois casos revelam que nem a direita nem a esquerda detêm o monopólio da burrice e do autoritarismo. Quando não gostam de algo, partem para a gritaria ignorante, irracional e prepotente. Os episódios atestam também como a truculência intelectual é capaz de prosperar, silenciando, com extrema facilidade, a livre expressão de ideias. No reino da covardia, qualquer berro de um bando de desmiolados é suficiente para amedrontar a rua, o cinema e o museu.

É bem verdade que a repercussão das duas presepadas não é idêntica na grande imprensa e nos meios virtuais. Sobre o filme com Olavo de Carvalho, as poucas vozes que se manifestaram para criticar a iniciativa autoritária fizeram questão de pôr em xeque as ideias e o trabalho do pensador; também houve um tremendo esforço para diminuir as qualidades do documentário. Afinal, não pega bem ao bom-mocismo militante defender um “fascista hediondo”.

Em tudo isso, mais uma vez fica evidente o quanto há de falacioso na imagem que gostamos de pintar sobre nós mesmos – seres pacifistas, tolerantes, democráticos. Sob essa fachada, basta um quadro na parede, ou um filme na tela, e abraçamos a medieval causa da mais degradante censura.  

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