Uma grotesca renovação da política
Todos os dias eles aparecem na TV. No cumprimento da lei, as emissoras são obrigadas a exibir as inserções da propaganda política, num medonho festival de figuras em quase tudo bizarras. É um panorama de inapelável desalento – até para o mais otimista dos espíritos.
Quando vejo o desfile de caras e frases feitas, não sei o que é mais fantasmagórico; se a velharia que nunca larga o osso, se seus filhotes a ostentar os sobrenomes que nos atormentam desde os tempos das capitanias, dos engenhos e das carruagens.
Nos programas televisivos, os descendentes do mandonismo se repetem na ladainha da “mudança”, da “renovação” e da “nova política”. O enfadonho discurso soa tão verdadeiro quanto as fábulas de Chicó no mundo de Ariano Suassuna. É um desafio infernal procurar alguma dose de consistência e credibilidade em falatório absolutamente oco e inverossímil.
Como se suas famílias não estivessem aí há décadas, produzindo todos os tipos de mazelas, por sucessivas gerações, os herdeiros dos coronéis se apresentam como se fossem a redenção de um povo. É como se tivessem direito natural à posse de nossos destinos. Chega a ser agressivo.
A certeza de que herdarão o poder e o botim, sem fazer força, parece até liberar a linha sucessória de alguma formação mais elaborada. É patente a mediocridade intelectual, assim como o viés populista e reacionário. O vazio de ideias é tão visível quanto as feições da linhagem paterna.
É duro, mas aí estão as novidades de nossa política. Isso tem história. Do coronelismo à pistolagem, do nepotismo à taxa de propina, do assalto aos cofres públicos à deslavada demagogia – tudo nos alerta para o pior. Nessa toada fatalista, por essas bandas, ao que parece, o futuro ainda vai durar muito tempo.
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