Quando um delator conta mentiras

10/09/2017 17:21 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Foi parar na cadeia o delator que, até um dia desses, pretendia simplesmente derrubar o presidente do país. E ele quase conseguiu. Jornalistas consagrados e os maiores veículos de comunicação cobraram, em contundentes artigos e editoriais, a renúncia de Michel Temer. Joesley Batista se apresentava então como a consciência exemplar da nação, uma cápsula de coragem, honradez e honestidade.

Era isso o que se pensava no carnaval de fanáticos da Lava Lato. Na vida real, não resta dúvida, tudo não passava da mais cretina encenação. Ao contrário do que disse em espalhafatosas entrevistas, a única preocupação do açougueiro da JBS era com seus próprios interesses.

Desde o começo, apesar da zoada e da cacofonia de justiceiros, as denúncias em série de Joesley foram deixando rastros duvidosos, indícios de práticas sempre suspeitas. Quatro horas de gravação, agora reveladas, mostram que o homem entende mesmo é de bandidagem. Em suas palavras, há de tudo: de propina e ameaça a chantagem sexual.

Joesley e seu ex-diretor Ricardo Saud, também preso, são delatores na Lava Jato. Distorceram fatos, manipularam dados e informações, acusaram levianamente, mentiram com a serenidade dos psicopatas. Num estado de coisas em que a palavra de um delator é tomada como definitiva para se condenar qualquer um, o que temos no horizonte?

No clima de linchamento generalizado, e a qualquer custo, autoridades deixam de investigar e de buscar as provas. Tudo se resolve no palavrório de confiáveis delatores, criminosos arrependidos que, de repente, decidem contribuir para um país melhor, livre da corrupção. É o paraíso de promotores juvenis do Ministério Público Federal.

Como não existem soluções fáceis para coisas complicadas, seria recomendável que a garotada do MPF começasse a agir com um pouco mais de sobriedade e menos deslumbramento. Viciados em delações, os promotores precisam se livrar dessa dependência, em nome de investigações sérias.

Na condição de delatores, o ex-senador Delcídio do Amaral e o doleiro Alberto Youssef já foram flagrados contando mentiras em seus depoimentos. Além deles, quantos mais não contaram fantasias em criativas peças de acusação?

O combate à corrupção não pode se valer da prática de crimes para forjar provas e obter condenações. Agindo assim, representantes da lei se igualam aos delinquentes. O escândalo JBS-PGR é resultado dessa terrível anomalia.

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