Uma constatação baseada em fatos reais: de canto a canto do país, hoje em dia, todo promotor de justiça se acha um Deltan Dallagnol. Deltan é aquele rapazinho especialista em Power Point, tomado de convicção quanto aos crimes cometidos por Luiz Inácio Lula da Silva. Sim, todos os membros dessa instituição estão convictos de que têm uma lição a dar ao Brasil. Sem eles, e sem a chamada República de Curitiba, estamos perdidos.

 

Com a imagem dos políticos cada vez mais no subsolo, os heróis do MP apresentam suas eloquentes e incontestáveis credenciais para varrer a corrupção da vida brasileira: são corajosos, branquinhos e riquinhos; além disso, alguns têm diploma de universidades estrangeiras.

 

Um traço que completa o extravagante perfil desses senhores é a vaidade desvairada, exibida com desassombro adolescente no mundo espalhafatoso das redes sociais. Berram palpites (e sentenças fora dos autos) sobre tudo e sobre todos, com a veemência fanática dos que não aceitam ser contrariados.

 

A Constituição de 1988 redimensionou o papel do MP – e isso foi um inequívoco avanço para o fortalecimento do combate ao crime de um modo geral. Não se questiona a relevância dessa virada. Mas, com o perdão do clichê, todos sabemos que nada é perfeito, nada está acima do bem e do mal. E, no caso do Ministério Público, há problemas antigos, muito anteriores ao surto atual de justiceiros e salvadores da pátria.

 

Em março do ano passado, um dos males do MP foi banido pelo STF, que finalmente proibiu um trânsito insolente que vigorou por décadas: promotores e procuradores alternavam o exercício da função com a ocupação de cargos no Poder Executivo. Ou seja, num dia eram chefiados por governadores ou prefeitos, e, no outro, reassumiam o posto no MP com a missão de “fiscalizar” esses mesmos governadores e prefeitos. É o que se pode chamar de piada pronta.

 

Em Alagoas, sucessivos governos adotaram essa avançada estratégia de gestão, naturalmente preocupadíssimos em zelar pela coisa pública. O oba-oba era tão arraigado que, por ocasião do julgamento do caso no Supremo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não se sentiu constrangido em defender a permanência de tal anomalia.

 

A sociedade, é claro, precisa de um Ministério Público forte e independente, bem longe das artimanhas próprias da guerra pelo poder político. É difícil, mas, com um pouco de esforço e sobriedade, a gente chega lá.