A dor é tanta que a mulher fica quietinha, em seu canto, falando palavras desconexas que rompem o silêncio hierárquico dos que não querem ouvir.
A mulher é preta, senhora cheia das idades, uma mãe órfã.
Sua filha única foi morta pelo marido que a considerava posse, propriedade. Ele era dono da esposa , e ponto final.
Parada no meio da sala nua, mas, vestida de significados, a mulher-mãe-orfã faz um inventário intimo da vida, que agora-sem a filha morta, se faz letárgica, feito hibernação da dor, que se arrasta voraz por todas as artérias do corpo.
Tem horas que ela deposita a mão sob o peito, como a sufocar uma tristeza tamanha que ameaça consumi-la.
Essa dor é só dela. Não é uma dor coletiva, feito o merchandising #mexeucomumame xeu com todas.
A filha da mulher foi morta e ela está só, com sua dor.
E ponto final.