A mineira , estudante da Universidade Federal de Uberlândia e conselheira no Conselho Nacional de promoção da Igualdade Racial CNPIRDandara Tonantzin Castro, escreve:
A nossa presença incomoda. Sobre o racismo em uma festa de formatura.
"Nessa semana participei da formatura dos meus amigos de Engenharia Civil da Universidade Federal de Uberlândia-UFU. Na noite de ontem, no baile, fui de TURBANTE.
No início muitos olhares incomodados, mas os vários elogios me acalmavam. Quase no fim da festa, já do lado de fora, um cara branco puxou meu turbante forte. Disse para ele soltar e saí. Quando passei por ele novamente, sozinha, ele puxou pela segunda vez, fiquei tão brava que gritei para ele não tocar no meu turbante. Ele acenou para os amigos virem, quando juntaram em uma rodinha um deles puxou o turbante da minha cabeça e jogou no chão. Quando fui catar, incrédula do que estava acontecendo, jogaram cerveja em mim. Muita cerveja. Fiquei cega, sai desesperada para achar meus amigos. Sabia que se ficasse ali poderia até ter mais agressões físicas.
Meus amigos imediatamente chamaram a segurança (todos negros) que logo entenderam que se tratava de racismo e logo foram tirá-los da festa.
Um deles teve a cara de pau de falar ao segurança que não meu agrediu "só tirei aquele turbante da cabeça dela".
As namoradas (todas brancas) vieram pra cima de mim. Tentei explicar que era racismo, o cinismo prevaleceu e sem êxito sai de perto. Ficaram de cima dos seguranças pedindo para me tirar da festa também, como se a minha presença fosse um problema.
Meus amigos ainda tentaram conversar, mas o ódio cega. Quando fui ao banheiro, ainda tive que ouvir ameaças indiretas, sobre me bater e outras coisas terríveis que não consigo nem dizer aqui. Fomos os últimos a sair por medo de fazerem alguma coisa conosco do lado de fora.
Negros na formatura? Na limpeza, segurança ou servindo.
Mantive-me forte muito tempo. Mas o racismo é cruel. Minhas lágrimas estão molhando muito a tela do celular, só de pensar que estes e tantos outros passaram impunes. Tenho muito orgulho de ter formado um preto, pobre vindo do interior como o Filipe Almeida, seguimos com a certeza de que vamos resistir."
Fonte: Dandara Tonantzin Castro