O artista militante de Belo Horizonte,Ricardo Aleixo, nos fala:
"Cada pessoa negra neste país precisa ser alertada quanto ao papel que a história nos reserva em tempos, como agora, quando já nenhum projeto coletivo, de tipo "democrático", anima o conjunto da sociedade brasileira. Menos que os cidadãos e as cidadãs de segunda classe, que sempre fomos, tornamo-nos peças descartáveis de um sistema que ameaça fazer da escravidão uma realidade ao alcance de toda a população.
Farão, por isso, os do andar de cima, com que aumente a nossa exposição à máquina mortífera do racismo estrutural, ativada pelas polícias militares e potencializada pelo processo em curso de eliminação dos direitos elementares, sob o silêncio empenhado, interessado, quase militante, eu diria, dos representantes daqueles setores historicamente definidos como "progressistas", hoje entregues à tarefa de salvar a própria pele.
Dizer que vejo saídas a curto prazo seria afiançar uma ideia de país que só poderá dar certo se puder continuar a fazer do direito das pessoas negras à vida uma mera hipótese a ser relativizada conforme as circunstâncias. E, sim, admito que tenho dois medos:
1) o de, por expressar tão abertamente o que penso, vir a deixar minhas filhas e meu filho sem pai;
2) o de começar a pensar que, por ser quem eu sou, encontro-me em situação menos vulnerável do que a do rapaz negro, morador de alguma favela daqui ou de qualquer cidade brasileira, forçado a abandonar a faculdade por não dispor do dinheiro para a passagem. Sei que vocês gostariam de pensar que exagero."
Fonte: Ricardo Aleixo- Belo Horizonte