Alagoas é considerado o estado berço da liberdade e marca a origem do primeiro estado livre e negro das Américas. É terra natal da princesa Aqualtune e foi no carnaval das Alagoas que o artista plástico de renome decidiu “homenagear” a mulher feminista preta, no carnaval, se fantasiando de “Ângela Davis”, com um grotesco e horrendo black face.
Na tradução literal do inglês, blackface significa “rosto negro”, em português.
E como acreditamos que a arte não tolera, ou justifica nenhuma forma de discriminação, e que artistas em sua essência, tem o papel fundamental de combater preconceitos, buscando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, contestamos a fantasia do artista.
Uma fantasia esdrúxula que transformou a caracterização do corpo da mulher preta e intelectualidade acessível a satirização e ao ridículo, das ruas por onde desfilou, consubstanciando estereótipos e padrões de opressão e violência.
O blackface potencializa os estereótipos racistas contra pret@s, muitas vezes oprimidas por possuírem essas identidades.
Pintar a cara com tinta preta e pôr um black power, no carnaval, não presta homenagem a mulher preta, configura-se sim, em uma atitude depreciativa, desrespeitosa e racista, para nós, mulheres pretas conscientes.
Insistimos em afirmar que o artista plástico alagoano desmerece, desqualifica a construção histórica e os significados da luta diária de tantas e inúmeras mulheres pretas que travam uma luta imensa para viver com dignidade e, não para serem ridicularizadas, de modo extravagante, no carnaval.
Qual mulher preta se vê representada ou homenageada nessa caricatura satânica?
Uma sociedade só escreve sua história se ela tem a memória da rota da escravidão.
Racismo não é brincadeira.
Racismo não é piada.
Blackface é mais uma ferramenta de opressão e que longe de ser uma forma de humor, é uma forma racista que, se hoje é mais sutil, não é menos ofensivo.
A fantasia do artista plástico alagoano é uma opressão disfarçada de brincadeira.
Enquanto prática racista, o blackface não pode ser naturalizado ou encarado como humor e não, não abrimos espaço para concessões, disso ou daquilo..
E, para o artista plástico alagoano, deixo um conselho: No próximo carnaval respeite quem vivencia uma realidade que não é a sua e sim de milhões de pret@s, que lutam diariamente para combater o preconceito nesse país.
Mulher preta não é alegoria de carnaval.