Corre Temer que o Cunha vem aí.
Imaginem por um instante um governo eleito pela via indireta, com altíssima rejeição popular mensurada em pesquisas e que se propõe a aprovar uma série de medidas e propostas sucessivamente rejeitadas em sufrágios eleitorais democráticos e abonados por observadores internacionais.
O leitor imediatamente espera que esse governo, em meio a tamanha atmosfera de ilegitimidade, vai fortalecer os mecanismos democráticos até como forma de legitimar suas ações.
Quem pensou dessa forma errou feio.
Tome-se como exemplo o governo Temer que se adequa perfeitamente as características descritas no primeiro paragrafo, é o governo que propõe uma ampla reforma do ensino médio no Brasil através de uma inusitada medida provisória prescindindo do diálogo necessário com a sociedade e os atores sociais que pensam a educação no país.
O que justificaria tamanho açodamento?
Os doutores em arrogância que estão a frente do MEC alegam que a reforma é necessária e urgente e, portanto, não pode mais ser adiada.
Oi??? É isso mesmo???
Eis então a teleologia dos regimes autoritários que ao longo da história procuraram basear sua existência em dois pressupostos:
- Não é possível conciliar a justiça social com a manutenção das liberdades democráticas (via jacobina).
- As necessidades e imperativos históricos exigem a substituição do debate democrático pela sabedoria dos “especialistas”, pois, já perdemos tempo em demasia (via napoleônica).
Como sabem todos os silenciosos faróis da nossa linda costa litorânea, o governo Temer não busca a justiça social e, portanto, podemos descartar o equivoco de estar solapando a democracia pela via jacobina, quem dera fosse por isso, seria péssimo, porém mais aceitável.
Fiquemos com segunda via: o governo Temer não tem tempo a perder, não pode dispor das suas preciosas horas em debates inócuos com reitores, professores, cientistas e estudantes.
Às favas com a comunidade científica porque o governo Temer, se tudo “correr bem”, tem no máximo um ano e meio, mas pode acabar amanhã se um hospede especial recém-chegado a masmorra de Curitiba resolver entregar os anéis pra salvar os dedos.
Depois, ninguém sabe o que pode vir e quem provavelmente vier, certamente não vai querer ter diante de si esses serviços sujos e pouco permeáveis a aprovação popular, afinal, os mesmos faróis que tudo veem e nada falam, sabem que ninguém ganha eleição prometendo cortes, desemprego e arrochos.
Minha querida Dilma experimentou na pele o preço do estelionato, e, portanto, esse tipo de serviço a gente deixa para governos eleitos pela via indireta.
Temer tem que correr contra o tempo pra fazer suas contra-reformas e aqui uso o termo contra-reforma partindo do principio que nenhum pai de família acorda no domingo e conjuga o verbo reformar convidando a família a empreender mudanças que vão piorar a condição do seu lar.
Esse é o texto com o qual dou o pontapé na minha jornada pelo Cadaminuto e através dele não pretendia dialogar a respeito da reforma do ensino médio e sim os expedientes antidemocráticos que precipitam sua aprovação.
Na próxima postagem vamos debater o mérito da reforma.
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