No mês em que será votado o impeachment da presidente Dilma e na mesma semana em que é dado o ponta pé da campanha eleitoral nos municípios, o presidente interino Michel Temer (PMDB) tomou uma decisão de caráter eminentemente político: retirou dos governadores nordestinos a gestão de obras contra a seca. Elas ficarão sob o controle do PMDB através do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).

Como todos sabem, o Nordeste é majoritariamente contra o impeachment de Dilma e tem uma forte queda por Lula. Portanto, é uma estratégia para diminuir a influência dos governadores petistas e simpatizantes, casos dos estados da Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará, entre outros.  Além disso, por aqui, segundo pesquisas, Temer tem o maior índice de rejeição do país.

Ao mesmo tempo, Temer decidiu aumentar o valor do repasse aos Estados comandados pelo PMDB, casos de Sergipe e Alagoas. O governado por Renan Filho (PMDB), o repasse de R$ 2 milhões cresceu para R$ 10 milhões. Dizem que foi um agrado ao senador Renan Calheiros (PMDB) que aderiu ao afastamento de Dilma e tem se aproximado do interino.

Se tecnicamente a gestão das obras e investimentos contra a estiagem sai do controle dos governadores, cai diretamente nas mãos do PMDB e dos aliados. São quase R$ 800 milhões para o Nordeste, com exceção do Maranhão, pois não enfrenta seca.

Por aqui o coordenador do DNOCS será Paulo Maia de Souza Valente, indicado pelo ministro alagoano dos Transportes, Maurício Quintella, que não é adversário dos Calheiros.

Nos demais estados cujos governadores não são alinhados com o PMDB, casos do PT e de alguns do PSB, os gestores serão indicados por deputados e senadores adversários.

A decisão de transferência dos recursos foi um dos motivos que levaram o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, o general do Exército Adriano Pereira Júnior, a pedir demissão. Ele assumiu o cargo no governo Dilma, em 2013, e foi o responsável pela decisão de deixar com os governadores a gestão dos recursos.

Os insatisfeitos dizem que a decisão do governo Temer é política e de olho nas eleições municipais. Os políticos agora beneficiados dizem que o DNOCS tem mais know how e os governadores olhavam apenas para os municípios que lhes interessava.

E o povo? E o combate definitivo aos efeitos da estiagem?

Ora, resolver pra que?

Isso é política.

Os prefeitos e candidatos no Sertão alinhados aos Calheiros já comemoram.