A liberdade vigiada das nossas escolas

02/05/2016 19:16 - Diálogos e Debate
Por redação

   

     

          O elemento central da teoria liberal defende a tese de que, quanto menor for a intervenção do estado nas nossas vidas, mais liberdade a sociedade vai respirar.

          Por essa premissa, cada vez que um estado sanciona uma lei, a sociedade civil encontra-se mais aprisionada na sociedade politica. Poucos homens sintetizaram essa visão de mundo tão bem quanto Friedrich Hayek, numa obra clássica chamada “O caminho da servidão”.

          O paradoxal é ver movimentos, teoricamente inspirados na doutrina mencionada acima, defenderem uma legislação que dá ao estado, no início do século XXI, o direito de regulamentar a reflexão do professor numa sala de aula.

          A Lei da escola livre, aprovada recentemente em Alagoas, é a expressão de um espectro conservador que ronda a nossa sociedade disfarçada sob o manto de defesa do liberalismo. Sem dialogar com nenhuma corrente que fundamenta a pedagogia moderna, dá ao Estado o direito de limitar a ação reflexiva do professor, a pretexto de coibir uma suposta ideologização ou doutrinação que estaria implícita na abordagem temática. Quem terá a competência pra isso?

O que poderá ser tomado com doutrinação numa abordagem filosófica ou sociológica?

          Na década de 60, soldados do exército invadiram as salas da UNB para coagir com baionetas professores e alunos que estariam supostamente disseminando ideias subversivas. Em 1968 o Marechal de Gaulle, presidente da França, assistia perplexo o jovem Cohn Bendit levantar os alunos nas universidades de Nanterre e Sorbonne,  contra o conservadorismo predominante na França do pós guerra. 50 anos depois, ignora-se solenemente as lutas travadas no século passado, em nome de uma pedagogia medievalista que pressupõe uma neutralidade, transformando a abordagem teórica numa mera narrativa de fatos.

          Duro constatar que isso tudo acontece num estado que sofre com indicadores sociais alarmantes e numa sociedade que possui demandas acumuladas e historicamente abafadas. Como se não tivéssemos problemas nessa terra paradisíaca, resolvemos usar o aparato coercitivo do Estado para perseguir nossos subversivos professores, talvez porque eles sejam os verdadeiros responsáveis por nossa tragédia social.

          Em matéria de retrocesso, Alagoas continua sendo vanguarda absoluta. Não penso que isso seja apenas uma mera inocência. As pautas do Congresso Nacional estão chegando para comprovar o momento.

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