É  um menino, ainda novo, que nas mãos trazia uma cajado- como a sustentar toda a  rudeza do mundo, que o atropela.

O menino preto,  apoiado no cajado,  nutria-se de um frasco plástico meiado de cola de sapateiro. A cola de sapateiro é o ópio dos meninos pobres. De fácil aquisição.

O menino franzino que trazia nas mãos um cajado e olhava de olho vazio para as profundezas das águas, da Lagoa da Anta,no bairro de Jatiúca, em Maceió,AL,  temperada com as massas esponjosas  e fétidas dos esgotos das residências do entorno, fazia uma reflexão, só dele.

O olho vazio do menino via além das fezes infiltradas nas águas da Lagoa da Anta, expunha suas  dores, em vísceras.

O olho vazio do menino preto fazia uma selfie de sua  saga secular  das idas e vindas de vivente  das ruas. Ruas que se postam indiferentes a ele  e a tantos outros e muitos meninos, seus semelhantes.

 Parei de longe para ver o menino, não me atrevi a interpelá-lo, seus olhos vazios de vida...

Ao comentar com um senhor sobre o menino do cajado, ele se inquietou:- Que menino?

É, nossos meninos pretos são invisíveis!

A gente não pode deixar de não se importar.