Ela me conta que mataram o filho dela, o único menino, o meu menino- fala entre lágrimas e palavras entrecortadas de dor. Eu juro dona, ele não era metido com essa coisa de roubo ou drogas. Estava aqui sentado na frente de casa com os outros e daí passaram e cuspiram um monte de bala no meu menino.
O filho dela- como tantos jovens em Alagoas- são sequestrados da vida por balas-certeiramente- perdidas.
Somos uma mera estatística crescente de civis mortos.
As taxas de homicídios juvenis de Alagoas resultam acima de cinco vezes maiores que as de Santa Catarina ou de São Paulo. Segundo o Mapa da Violência negros são 91,5% das vítimas de homicídios em Alagoas. Números bem acima do patamar nacional que é de 68,1%.
Corpos amontoados no cristalizado silêncio social. Pretos. Pardos. Invisíveis.
O genocídio dos meninos pretos é como uma infecção oportunista para a qual o estado não dispõe nem de médicos, nem medicamentos.
Por sua natureza racista o estado alagoano considera meninos pretos incômodos estorvos sociais.
O genocídio dos meninos pretos na terra onde se deu o grito da liberdade negra- Alagoas- é uma ação-premeditadamente-consentida.
E a faxina étnica continua. Naturalizada.
Plano Juventude Viva???
Meninos brancos ganham doces, meninos pretos ganham balas.
Até quando?.