Niara Aureliano está no caminho de tornar-se  jornalista alagoana...

 

Acabei de chegar da III Marcha da Periferia Alagoas, na Praça da Formiga, localizada no bairro do Benedito Bentes, em Maceió,AL.

Quero fazer um breve relato pra vocês.

 A Marcha, que chega a sua terceira edição, foi inspirada no Movimento Organizado de Hip Hop Quilombo Urbano – que realizou a primeira Marcha da Periferia, em 2006, em São Luiz do Maranhão  e busca denunciar o racismo que afeta com maior intensidade o povo negro das periferias.

Hoje eu tive a oportunidade de conhecer Dona Maria José, mãe de Davi, jovem de 17 anos levado pela Polícia Militar no dia 25 de agosto e que nunca mais foi visto. Fomos eu e companheiros em sua casa, e pudemos sentir de perto a dor de uma mãe que teve o filho tomado pelo racismo do Estado brasileiro perpetuado pelos governos e expresso também na ação das PMs.

Fizemos o convite para que ela se juntasse à Marcha desse ano, que veio com o tema "Pela Destruição do Racismo". Ela foi, com papeis e fotos nas mãos, numa tentativa de lutar por seu filho sumido. Em meio à constantes lágrimas e um jeito tímido de falar, ela garantia que nunca deixará que o desaparecimento de Davi seja esquecido. D. Maria é uma senhora que trabalha vendendo coentro no Mercado da Produção e que está com uma bala alojada no rosto, pois foi atingida por uma "bala perdida" há mais de duas semanas.

Não esqueceremos porque Davi não foi o primeiro. São muitos Davis, Douglas, Dgs, Claudias e Amarildos espalhados pelo país, que simplesmente sumiram ou foram mortos pela abordagem da pm.

Os grandes culpados pelo sumiço de Davi são, na verdade, Teotônio Vilela (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). São eles que, além de permitir a ação racista das polícias, trouxeram em 2012 o Plano Brasil Mais Seguro para Alagoas, para acentuar a repressão nas periferias e EM NADA combater a assustadora violência que assola nossa terra. Mais polícia, ficou provado, não é a solução.

Vamos continuar na exigência da descriminalização da Polícia Militar: queremos uma polícia civil unificada, que possa ter seus representantes eleitos pelos trabalhadores, que respondam à um tribunal civil comum (não ao corporativismo do tribunal militar), que tenham direito à sindicalização e à greve como outro trabalhador.

E queremos também discutir seriamente com a sociedade uma nova política de drogas. Hoje, quem mais mata na periferia é a guerra aos pretos e pobres travestida de guerra ao tráfico comandada pelo Estado e a guerra interna na periferia CAUSADA pelo tráfico. Legalizar as drogas para acabar com o tráfico e acabar com a guerra contra a juventude negra e pobre!

Por fim, quero saudar a todos que colaram na construção da III Marcha da Periferia! Mandamos um grande recado hoje: Davi, não esqueceremos! Pela destruição do racismo, a nossa luta continua!

Fonte: https://www.facebook.com/niara.aureliano