O jornalista alagoano Márcio Anástacio nos solicitou um posicionamento sobre a questão em tela e ele gentilmente postou em  seu blog http://www.zuadadamidia.com/2014/10/tenho-ate-uma-apresentadora-negra.html

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Há um simbolismo explícito na utilização da imagem de apresentador@s pret@s nas campanhas eleitorais dos candidatos quase- todos - brancos, em Alagoas.

Para nós consiste numa forma estrategicamente política de tentar “vender” para o imaginário social que o mandato que eles exercem ou exercerão agrega a grande parcela da população brasileira, que é 53,1% preta. E ao mesmo tempo é uma forma midiática de negar o racismo com os “estão vendo” como não sou racista. Tenho até uma apresentadora negra!

Poderia ser algo positivo, entretanto o contraditório da questão é que com tanta gente preta mostrando a cara, o tema racismo, que a ONU reconheceu como estruturante e generalizado, não foi pauta dos programas ou mesmos debates televisivos.

O racismo que mata foi excessivamente ignorado.

 Poderia ser positivo, mas não o é, pois cria a falsa sensação  de que está tudo bem.

Alagoas é o estado que mais mata jovens negros no Brasil e isso foi expurgado dos discursos, porque para a política alagoana “falar” sobre racismo é algo muito, muito incômodo.

Imagina mulheres pretas anunciando com um entusiasmo ensaiado no programa de candidatos –quase –todos- brancos- afirmando que o tal candidato é o melhor para as gentes de Alagoas. Mas qual gente?

 A juventude preta da terra de Zumbi que vive um genocídio institucionalmente consentido?

Alagoas e é o estado brasileiro  mais perigoso para quem tem entre 15 e 29 anos, é preto e pobre. O dado é do mapa da violência 2014, elaborado pela faculdade Latino Americana de Ciências Sociais.

Na pequena África desprezada e aviltada em seus direitos, chamada Alagoas, que sediou a primeira República Livre e Negra da América Latina é visível a desconstrução estrutural e institucional das lutas quilombolas. É em Alagoas que o povo preto amarga os piores índices de desenvolvimento humano do país.

Para nós a utilização de tantas apresentadoras pretas no vídeo e a não discussão dos temas que impactam a vida do povo negro é  uma das  formas perversas da política secular.

Ainda somos –socialmente- descartáveis!

 

Fonte: http://www.zuadadamidia.com/2014/10/tenho-ate-uma-apresentadora-negra.html