E Stela Guedes Caputo - Dofonitinha de Lógunède escreve. Vai lendo...
“Sou da laia dessa gente que passou o ano todo dizendo #NãovaiterCopa. Não acho que fiz "mimimi" e nem fui chata (mas também se fui beijo no ombro). Exerci, assim como a galera do #VaiterCopa, igual direito de dizer o que penso. Não critiquei povo algum. Não acho quem torceu pela seleção ou vibrou e continua vibrando pela Copa "burro", "alienado", "abestado", "fedorento", "direitoso", "cãoraivoso" "seboso" "arrogante", "chulezento", "insensível", "intelectualdemerda" ou qualquer coisa. Sem querer também ensinar o que é ser alegre, ou o que é ser triste. Pelo que vale a pena ser alegre ou pelo que vale a pena ser triste. Sua alegria não é a minha, minha tristeza não é a sua. Também não quis promover, desacertar, desencantar, desalojar, gozar, convencer, desconvencer, esfudilhar, excomungar, profanar, ou exorcizar nada. Exerci, não o direito à babaquice, mas o direito de pensar fora do círculo da maioria. Me diverti de diferentes formas enquanto os jogos rolavam, inclusive recebendo gente aqui em casa.. sem que eu sequer assistisse aos jogos (para minha, só minha e particular coerência, cobrada por ninguém, além de mim mesma - coisa que posso a qualquer momento dispensar e ninguém tem nada com isso). Abri casa, terraço e cerveja (desde que as trouxessem) para quem quisesse se divertir e torcer. Sim, fiquei feliz e gritei muitas, muitas, muitas vezes gol da Alemanha (Croácia, Camarões, Chile, Colômbia também)..assim como outros gritaram muitas muitas, muitas vezes os gols que quiseram. Sim, cada um se diverte como pode ou como escolhe. Quem torceu pelo Brasil, de um jeito. Eu, e quem torceu contra a seleção, de outro jeito. O que eu não entendo mesmo é porque devemos regular e quase judicializar, para não dizer, linchar nas redes sociais, ou pior: em plena rua, os diferentes grupos. O que eu não entendo mesmo é porque quando "nós" criticamos é ofensa da baba escorrer grossa e vermelha (claro que vermelha). Já vocês quando criticam são tão delicados, leves e fofos (chega tocar harpa gente!). O que eu não entendo mesmo é porque quem torceu pela seleção pela Copa e tal, acha o diferente equivocado, raivoso, rancoroso...e não consegue também perceber que há diferentes modos de viver (ou não viver) essa festa (para quem acha que é festa esta copa específica). Torcer contra é um deles. Me parece (e só me parece) que os do #VaiterCopa e ?#vaiterHexa é que se enchem de rancor agora (ou desde o início?). Quem vive dizendo que A-M-A futebol e seus cotidianos (no plural sempre) sabe que isso também faz parte. A zoação faz parte. Tripudiar faz parte (ou isso só vale pra turma do "vaiBrasil"? enquanto a seleção tava ganhando #sóExusabecomo). O merdeléu que deu ontem? Faz parte. Eu também vou me divertir até domingo torcendo ou não torcendo (parece esquisito, mas há vida divertida além da copa e não tão divertida assim também). A festa e seu oposto é livre para geral! Também amo as desimportâncias...sobretudo as diferenças que elas ensinam todos os dias. Ainda precisamos aprender muito sobre esse espaço de tensões e opiniões que as redes sociais ampliam atualmente. No mais: Goooolll da Alemanha! e... ?#democracinarede ?#XôWebcídios ?#cotidianoseDiferenças ?#normalidadeéqueÉdoença ?#pimentanodosoutrosérefresco ?#GoldaAlemanha.”
*Stela Guedes Caputo - Dofonitinha de Lógunède - É candomblecista e jornalista e atua na área da educação, com mestrado e doutorado na PUC-Rio e pós-doutorado na UERJ. É professora do Programa de Pós-Graduação em Educação - PROPED/UERJ. Ganhadora- como parte da equipe do jornal “O Dia”/RJ, em 1993 do o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Em 2006 publicou o livro “Sobre entrevistas”, pela Editora Vozes. É autora do livro: “ Educação nos Terreiros, sobre crianças no candomblé´.