Considero o PT tão neoliberal quanto o PSDB ou o DEM.

30/10/2013 20:36 - Raízes da África
Por Arisia Barros

                                               * Reproduzindo  artigo de Golbery Lessa

As Jornadas de Junho foram uma negação intuitiva de várias dimensões do status quo, que se expressaram de modo particular em cada classe e camada da população. Houve uma atitude mental contrária, por exemplo, às péssimas condições de trabalho, transporte e saúde vividas pelos jovens proletários. Mas essa atitude não se desenvolveu para uma atitude anticapitalistas clara, restringiu-se a uma atitude contra às dimensões mais absurdas das propostas neoliberais, por esse motivo e pela invisibilidade relativa dos partidos revolucionários, as organizações marxistas não foram reconhecidas como uma alternativa de poder. Não foi um sentimento reacionário na sua origem, é evidente, mas tendeu a adquirir formas muito limitadas de expressão política. A maioria expressou uma negação radical a qualquer forma de organização da democracia, abrindo uma bifurcação que possibilitava um espaço para disputarmos a constituição de uma democracia proletária, constituída na base, por meio de conselhos e assembleias populares, mas também possibilitava a negação de qualquer organização, qualquer representação, que era uma atitude reacionária impulsionada por uma "boa intenção". Junho foi uma reação às péssimas condições determinadas pelo neoliberalismo e os governos petistas, tucanos e de outros partidos de direita, bem como uma reação contra a CUT, o PT e os movimentos sociais próximos ao petismo.

 Camadas jovens do proletariado passaram a enfrentar a polícia diretamente, sem mediação de partidos e programas. Isso ficou claro na guerra entre jovens proletários e cavalaria em BH. Foi um dos poucos episódios nos quais houve uma vítima fatal. Ou seja, a atitude política geral esteve entre a negação total de qualquer representação política, que foi impulsionada pelo sentimento progressista de negação do status quo, mas que acabou numa atitude conservadora de negar qualquer programa político, e um atitude de enfrentamento bélico direto, também sem nenhuma mediação de organização. Além disso, houve setores médios da população que foram às ruas contra a piora das suas condições de vida e, ao mesmo tempo, expressaram uma proposta pequeno burguesa de atuação e crítica. Esses setores estavam na rua contra o aumento dos juros e, ao mesmo tempo, contra os avanços da legislação trabalhista no sentido de proteger os direitos das empregadas domésticas. Considero o PT tão neoliberal quanto o PSDB ou o DEM, sem absolutamente nenhuma diferença, mas preciso reconhecer que parte da classe média foi à rua contra o "fantasma da esquerda no poder", representado pelo governo Dilma. Essa classe média achou ótimo que os partidos marxistas tenham sido hostilizados e participou dos conflitos de rua contra nós. Assim, podemos considerar, em síntese, que Junho representou um desgaste para o status quo e o governo Dilma, abrindo brechas fundamentais na hegemonia dominante, brechas pelas quais a esquerda revolucionária pode chegar a amplos setores da população. A queda na popularidade do governo Dilma demonstra isso. Contudo, Junho também demonstrou o descasamento entre a ascensão não planejada das ações de massa e o tamanho das organizações revolucionárias. Lênin escreveu O que fazer? numa situação análoga. A ascensão das ações de massa encontrou partidos revolucionários trabalhando de forma artesanal.

 

Fonte:  *Golbery Lessa: Professor universitário,historiador,  doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP

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