A voz da moça-velha-preta empalidecida pela aspereza do tempo está encharcada de nada.

09/07/2013 06:43 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Eles eram muitos, entre nove e dez meninos e meninas todos, hermeticamente, pretos. Todos igualmente pobres. Esbaldavam-se n’água  gargalhando sorrisos, com sabor de liberdade.

Eram meninos e meninas jogados ao léu, vidas púberes que são apagadas pela indiferença e o silencioso menosprezo dos passantes que  simplesmente não os vê. Seres invisíveis ao mundo dos abastados vivos e viventes.

O silêncio  fingidor da solidariedade alheia,  as vezes,  joga um pedaço de pão- como se aqueles meninos e meninas,  só de pão precisassem. 

Falta-lhes tanto que  preferem esquecer a insatisfação do nada ter e se enroscam em outras vidas- como temendo a morte provisória.

A mulher  preta empalidecida pelo emaranhado das asperezas diárias me pede “um real” para comprar tempero e  colocar no feijão que ela cozinha ali, ao  céu aberto para as nuvens.

Nem sempre as nuvens são azuis!

A voz da moça-velha-preta empalidecida pela aspereza do tempo está encharcada de nada. É uma voz seriamente mutilada pela não crença. Somos feitos de quê, afinal, se ninguém nos vê? Pergunta a voz no silêncio que ecoa nos olhos mortos.

Passo diariamente por ali e famílias - na sua grande maioria pobres e pretas - que habitam o entorno da Lagoa da Anta no bairro nobre da Jatiúca, em Maceió,Al , continua ainda no mesmo lugar,  numa constatação indiscutível que o limbo das politicas públicas, existe.

E o menino serelepe me pede:- Tia tira um foto da gente! E faz pose.

Fotografo sorrisos inocentes germinando numa pobreza cotidianamente invisível.

Stop!

 

 

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