A voz da moça-velha-preta empalidecida pela aspereza do tempo está encharcada de nada.
Eles eram muitos, entre nove e dez meninos e meninas todos, hermeticamente, pretos. Todos igualmente pobres. Esbaldavam-se n’água gargalhando sorrisos, com sabor de liberdade.
Eram meninos e meninas jogados ao léu, vidas púberes que são apagadas pela indiferença e o silencioso menosprezo dos passantes que simplesmente não os vê. Seres invisíveis ao mundo dos abastados vivos e viventes.
O silêncio fingidor da solidariedade alheia, as vezes, joga um pedaço de pão- como se aqueles meninos e meninas, só de pão precisassem.
Falta-lhes tanto que preferem esquecer a insatisfação do nada ter e se enroscam em outras vidas- como temendo a morte provisória.
A mulher preta empalidecida pelo emaranhado das asperezas diárias me pede “um real” para comprar tempero e colocar no feijão que ela cozinha ali, ao céu aberto para as nuvens.
Nem sempre as nuvens são azuis!
A voz da moça-velha-preta empalidecida pela aspereza do tempo está encharcada de nada. É uma voz seriamente mutilada pela não crença. Somos feitos de quê, afinal, se ninguém nos vê? Pergunta a voz no silêncio que ecoa nos olhos mortos.
Passo diariamente por ali e famílias - na sua grande maioria pobres e pretas - que habitam o entorno da Lagoa da Anta no bairro nobre da Jatiúca, em Maceió,Al , continua ainda no mesmo lugar, numa constatação indiscutível que o limbo das politicas públicas, existe.
E o menino serelepe me pede:- Tia tira um foto da gente! E faz pose.
Fotografo sorrisos inocentes germinando numa pobreza cotidianamente invisível.
Stop!
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