A atenção à família nem sempre foi referenciada, no tratamento de dependentes químicos. Atualmente, percebemos a importância que o núcleo familiar do dependente possui, na recuperação do mesmo.
A família pode ser uma forte aliada na prevenção, tratamento e reinserção do dependente químico, desde que seja “tratada” não somente durante a internação, mas também no retorno de seu ente, pois é justamente nesta fase, que costumam acontecer as “sabotagens”.
Mas afinal, o que é a Codependência? Apesar de ainda não ser reconhecida pela Organização Mundial de Saúde( OMS), verificamos no Codependente sintomas comportamentais e físicos, tão destrutivos quanto os do dependente.
Trata-se de uma dependência emocional, caracterizada por uma forte necessidade de controle, uma perda do “EU” , na tentativa de viver a vida do outro. O Codependente acredita ter a chave da recuperação de seu familiar, desenvolvendo dessa forma um relacionamento destrutivo, onde suas necessidades e desejos, são condicionados a vontade da pessoa com quem se relaciona.
Ao falar em tratamento é preciso entender, que assim como a dependência, a Codependência também requer cuidado contínuo, e certa disciplina. Aceitar que está doente, é o primeiro passo para evoluir no tratamento.
E este, é um dos grandes obstáculos, pois na grande maioria das vezes a família acredita, que o único que precisa de ajuda, é o dependente. É a velha ideia de: “ Ele é o doente, sou apenas a vítima! “.
Não apenas em Alagoas, mas em todo o país, percebemos o quanto ainda precisamos evoluir na atenção à Codependência.
Uma das questões a serem aprofundadas, é o não reconhecimento da Codependência como doença.
Muito mais que um diagnóstico, esta atitude seria um forte impulso para pesquisas e consequentemente desenvolvimento de técnicas para tratar o Codependente, e não somente impedir que este sabote o tratamento de seu familiar.
Ao se propor um tratamento da Codependência, devemos primeiramente estimular o Codependente a assumir, que também adoeceu ao longo do caminho, e que mesmo não tendo culpa alguma sobre os acontecimentos, ele tem responsabilidades não somente com o dependente, mas principalmente com ele mesmo.
Está em suas mãos tomar a direção de sua vida novamente, poder dormir, trabalhar, enfim, viver com qualidade de vida e relacionar-se de forma saudável com as pessoas e o mundo, entendendo que as mudanças não virão de forma imediata, mas com dedicação, esforço, fé e esperança, certamente suas atitudes serão modificadas.
Uma importante contribuição no processo do tratamento do Codependente, é a frequência nos grupos de Mutua-Ajuda, geralmente são grupos de pessoas codependentes, que reúnem-se semanalmente para partilhar suas dificuldades e sucessos. Costumo chama-los de “ Grupo dos Iguais”, já que ali todos vivenciam os mesmos problemas, em intensidades diferentes, e onde o ambiente acolhedor permite aos seus membros, falar sem medo de julgamentos, aprender a lidar com seus comportamentos destrutivos, melhorar sua auto-estima e tomar decisões sem ser aprisionados pela culpa.
E consequentemente, relacionar-se de forma assertiva com os que o cercam. Em Alagoas já contamos com alguns grupos como NAR-ANON, AMOR EXIGENTE, DROGAS NUNCA, entre outros.
E quando o tratamento em grupo, é combinado com o tratamento psicoterápico, a evolução acontece de forma mais rápida, deve ser feito por profissionais especializados, que não abusem de suas fragilidades, e não atribuam cargas de culpas desnecessárias, mas sim que os estimulem a realizar pequenas mudanças diárias, permitindo o resgate de suas vidas.
Cuidar de si próprio não é egoísmo, é auto-estima! E para isto, é preciso pedir ajuda, admitir que precisa dela e aceitá-la, sempre que possível.
“Se outras pessoas me escravizarem emocionalmente, significa que meus limites ainda não forma definidos” (Autor Anônimo).
Colaboração:
Joelma da Rocha Nunes,
Psicóloga CRP 15/2523
Doutoranda em Psicologia Social pela Universidad Argentina John F. Kennedy.