Texto: Danilo Della Justina
Estamos vivendo um momento muito interessante, o número de pessoas internadas devido ao uso de drogas em nosso País, é algo surpreendente, e cada dia se interna mais e mais. Há uns 4 anos atrás tínhamos em Alagoas menos de 100 vagas para internação e uma meia dúzia de locais, sejam clínicas ou comunidades disponíveis para tal, conseguir uma vaga era fácil, e se por aqui não conseguíamos facilmente, Pernambuco, Sergipe, Bahia ou São Paulo eram os destinos mais comuns.
Em muitos casos um tratamento ambulatorial, ou mesmo no consultório é a solução, mas é uma solução, que precisa do apoio e envolvimento de todos na família. Internar é uma séria decisão, que precisa ser tomada a partir de critérios e do esgotamento de outras possibilidades.
Nós profissionais tínhamos como função, tentar de alguma forma convencer o dependente químico à aceitar internação, as estratégias eram as mais variadas e tínhamos que ser firmes e dinâmicos para conseguir convencê-los. A última alternativa era internar involuntariamente em algum hospital psiquiátrico, que eram na época os únicos que atendiam a esta demanda, mas esta opção era realmente a última utilizada.
Hoje temos um número muito grande de vagas para internação em Alagoas, ultrapassa em muito os 1000 leitos, e as dificuldades para uma vaga são hoje maiores que antes, clínicas de internação involuntárias surgiram no estado, e nos estados vizinhos, e são a febre do momento, estão todas lotadas.
A internação é um recurso no tratamento, que traumatiza, gera discriminação e muita dor a quem precisa utilizar-se dela, deve ser o último recurso quando se busca tratar a dependência química, a internação voluntária ou involuntária é necessária numa grande quantidade de casos, talvez até na maioria.
A internação involuntária, compulsória ou qualquer que seja a modalidade onde o indivíduo é levado por resgate ou a força, é uma forma de tratamento que vem salvando vidas, porém é altamente traumatizante e de difícil aceitação por parte de quem é submetido a ela, por isso deve ser feita em clínicas ou centros altamente especializados, senão resulta em uma pessoa totalmente alienada e com grandes sequelas emocionais, muitas vezes abstêmio, mas sem vida, sem autoestima, sem vigor, ou ao contrário vive por algum tempo alienado em algum tipo de religião, como se o que fez foi um curso para ser santo, porém o número de recaídas e de reinternações beira o absurdo, a grande maioria dos dependentes químicos que encontram-se internados, tem no currículo várias internações sucessivas e sem critérios.
Há famílias que utilizam a internação involuntária como punição, ou como formas de ameaça constante na vida dos dependentes químicos. Internam seus filhos e cônjuges com a maior naturalidade, como se ele fosse passar dias de férias em algum lugar, e ainda relatam que eles estão muito felizes internados.
Digo a vocês, se alguém estiver feliz da vida por estar internado, está no lugar errado, pois não é mais caso de dependência química e sim outro transtorno psiquiátrico, pois, esta privado de tudo e de todos.
Outra questão é o tempo de internação definido muitas vezes pela família, sem nenhum critério clínico. Criou-se um mito que só longas internações são eficazes, não sei onde buscaram esta ideia, pois as melhores clinicas do mundo tem de média (90 dias) a curta duração (30 a 45 dias), os melhores resultados são destas clínicas. Mas quando o profissional fala para a família que não é necessário tanto tempo parece que estamos falando besteira.
A dependência química é uma doença e deve ser acompanhada por profissional qualificado para tal, e este profissional é quem pode avaliar qual a melhor forma de tratamento, o tempo e o local que este irá se tratar, é uma doença fatal, mas muitas pessoas não a levam a sério e buscam ajuda em qualquer lugar ou qualquer pessoa que se diga entendido ou pior ainda buscam muitas vezes ajuda com dependentes em recuperação acreditando que estes sabem mais que os profissionais.
Se há um problema com drogas na família, não perca tempo, procure um profissional ou serviço especializado e peça uma avaliação e orientações, procurem os grupos de autoajuda para buscar auxilio e força para poder agir de maneira certa e na hora certa.
Com o tratamento correto seu familiar tem muito mais chances de ter resultados positivos, e, por conseguinte sair deste mundo que o aprisiona e destrói tantos lares e vidas.
Texto:
Danilo Della Justina; Psicólogo