Reeditando um texto que mesmo tendo algum tempo continua novo. O racismo é um camaleão poliglota.

Datado dos fins do século XVI - o Quilombo dos Palmares - o maior de todos os
quilombos - foi berço de uma das maiores riquezas que o estado de Alagoas herdou: a
chamada diversidade, o pluralismo cultural e étnico. Formado por segmentos
marginalizados pela escravocracia: negros de diversas regiões da África - com
diferentes costumes e uma enorme variedade de línguas - a negros nascidos no Brasil
e aculturados pela cartilha dos brancos. Ao lado desses negros, embora em número
bem restrito, moravam ainda ex-escravizados, povos indígenas e até alguns brancos. -
Palmares chegou a ter 20 mil habitantes e se constituiu em uma das primeiras
sociedades econômica e socialmente viável e auto-sustentável. Um verdadeiro estado
negro dentro da colônia portuguesa.
Ganga Zumba, Zumbi foram reis em Palmares. Zumbi faz parte do panteão dos heróis
nacionais. Ícone da história - o herói negro- é despertado pela esporádica memória
nacional do dia 20 de novembro - Dia da Consciência Negra- entretanto como a
história afro-brasileira não pode e não deve ser estática é imprescindível perguntar:
Como é vivida e vista a realidade da exclusão racial no estado alagoano, nos outros
364 dias do ano?
Em pesquisa recente, devido ao fosso de miséria e das desigualdades sociais,
Alagoas, foi alcunhada como "Pequena África", minimizando e estereotipando a
imagem do continente africano (A África é um continente de 56 países e ilhas).
É preciso construir aproximações dialógicas e pedagógicas entre o momento histórico
da luta palmarina e a história real focada na capacidade do racismo reinserir-se no
cotidiano social, pavimentando os caminhos dos ideais de hegemonia que demarcam
e orientam as condições da existência do elemento negro no estado brasileiro dito
miscigênico - o último a abolir o regime escravocrata e o país com a segunda maior
concentração de população negra do mundo.
É preciso flexibilizar mentalidades e comportamentos e assim nortear com novas
práticas a cultura política do estado alagoano resgatando a história de organicidade,
sustentabilidade e liberdade que os Quilombos dos Palmares (nossa Pequena África
positiva) legou ao mundo.
De maneira direta e crua diremos que a omissão em relação à história negra na terra
da liberdade produz um oceano de aprisionados históricos. O excesso de melanina
pinta a cor da miséria dos afro-alagoanos.
Emprestando um trecho do artigo: As Bantas Coisas de Alagoas, do Professor Bruno
César Cavalcanti: "Porque a pobreza herdou os negros alagoanos, e deu uma cor
escura à pele da miséria. Esta gente apelidada de povo, mas, contudo sempre exibida
num corpo desossado como um polvo".