Texto:
Dr. Uranio Paiva Ferro
Mito ou verdade?
Usuários de cocaína e crack tem o mesmo perfil?
Mito:
Jovem, desempregado, baixa escolaridade, baixo poder aquisitivo, famílias desestruturadas, múltiplas drogas, comportamento sexual de risco, maior envolvimento com contravenções.
Só pessoas marginalizadas usam?
Mito:
O crack não tem poupado classes sociais ou grau de escolaridade, nas enfermarias (médicos, empresários, advogados, chefs, atletas, engenheiros, músicos...)
O consumo de drogas licita precocemente antecede o crack?
Verdade:
Maioria dos usuários tem histórico precoce de álcool e tabaco
As pessoas usam porque é prazeroso?
Verdade (só no início):
Anos 90, “busca “por sensação de prazer”, Ano 2000”, para diminuir a fissura e lidar com problemas familiares e frustrações.
Todos dependentes terão a mesma história evolutiva?
Mito:
Alguns conseguem manter por anos o consumo conciliado atividades cotidianas e sem atividades ilícitas.
É muito barato, não dá lucro ao tráfico?
Mito:
Curta duração dos efeitos + compulsão por novas doses = gasto mensal superior ao da cocaína refinada.
Basta usar poucas vezes para ficar dependente?
Mito;
Não existe padrão para instalação da dependência. O risco é maior no primeiro ano de consumo.
Trouxe mais problemas?
Verdade:
Maior taxa de hospitalizações, subemprego e desemprego, violência, vitimização e gastos com o sistema carcerário, estigma e isolamento social, perdas familiares, intenso sofrimento emocional.
A maioria dos óbitos é por overdose?
Mito:
A maior parte dos usuários de crack tem falecido de causas violentas.
Crack não tem cura?
Verdade:
Dependência química é uma doença crônica como qualquer outra.
Diminuiu os casos de infecção pelo HIV?
Mito:
Contaminação por agulhas compartilhadas, morte por complicações pelo HIV é a segunda causa mais prevalente entre os usuários.
É de livre arbítrio escolher tratar-se?
Verdade (parcial):
Não reconhecer o uso como problema, status ilegal e criminalidade, estigmatização e preconceitos, falta de acesso ao tratamento.
Internação involuntária é uma opção?
Verdade (parcial):
Ideação homicida, quadro psicótico, quadro clínico onde ele esteja colocando-se em risco ou a terceiros.
Crack muda a capacidade cognitiva?
Verdade:
Por isso somos a favor de internação involuntária em alguns casos! O paciente fica pouco disponível para o tratamento.
Não existe remédio para tratar a dependência?
Verdade:
Tanto para o crack como para a cocaína ainda não existem remédios específicos para o tratamento da dependência.
A internação é a única forma de tratamento?
Mito:
Não é a única, porém para alguns pacientes pode ser a única forma de iniciar um processo de parada de consumo.
O hospital geral está apto para atender este paciente?
Mito:
Urgências – sem psiquiatra (quanto mais especialista!), na enfermaria – Sem estrutura física ou equipe treinada.
É fácil perceber se sintomas psíquicos são devido ao uso?
Mito:
O período de desintoxicação é essencial para o diagnóstico de comorbidades
Deixar de usar é apenas um dos objetivos do tratamento?
Verdade:
É uma doença que abrange vários setores da vida. Deixar de usar facilita que outras mudanças ocorram!
Nenhum serviço isolado é capaz de cobrir todas as demandas?
Verdade:
Complexidade da dependência química torna TODOS os equipamentos de saúde importantes! (CAPS, internação, grupos de mútua ajuda, comunidades terapêuticas...)
Texto: Dr.Uranio Paiva Ferro.