Mãezinha se foi!

01/09/2012 06:03 - Raízes da África
Por Arisia Barros

Socializamos o texto de agradecimento da nossa eterna Senadora,  Heloísa Helena,  que ao mesmo tempo presta uma homenagem à Dona Helena,sua mãe, falecida em 28 de agosto, em Maceió,AL. Força Heloísa Helena!

 

Obrigada a todas (os) que nos deram carinho e generosidade diante da nossa imensa tristeza com a morte de Mãezinha! Estamos arrasados, mas seguimos na certeza de que ela continuará sendo Anjo de Luz em nossos caminhos!
A minha mãe Helena foi como nós costumamos falar “pai-e-mãe”... meu pai Luiz morreu de câncer ósseo com apenas 35 anos quando eu era ainda uma bebezinha de 2 meses! E foi minha mãe, em nossa pobre casa no interior de Alagoas, quem me ensinou as mais belas lições de Coragem, Honestidade e Solidariedade!
A Coragem por ser uma desbravadora... cresceu no sertão, ficou órfã ( de Pai aos 9 anos, de Mãe aos 14 anos), ajudou a criar os irmãos no “cabo-da-enxada” e só foi ser totalmente alfabetizada quando eu consegui entrar na escola com 8 anos e ela voltou a estudar! Virava as noites numa máquina de costura... nunca esquecerei o som do pedal da máquina enquanto meu irmão Hélio e eu muitas vezes sentávamos ao lado com minhas crises de asma e gravíssimo problema renal ou pulmonar. Aliás, eu tinha tanto problema de saúde que todo ano diziam que eu ia morrer... era tanta promessa que Mãezinha fazia que com 7 anos eu tinha o cabelo no joelho e quando cortaram (pagando promessa) eu cai da cadeira de tanta leveza que deu desequilíbrio! Pra azar do banditismo político eu vivi – pelos cuidados dela - muito mais!
A Honestidade pelo exemplo... não esqueço de um dia em que ela me obrigou a devolver minúsculas continhas azuis que sobraram de um vestido que ela costurava e eu as achei e preguei num vestidinho de uma boneca velha! Na hora não consegui entender e briguei tanto que levei mais uma surra! Exceto a surra (rsss) a lição foi maravilhosa... entrei no mundo podre da política e não fui contaminada em nenhum momento por esse submundo! Aprendi a Honestidade para as grandes coisas pelos ensinamentos de Mãezinha e apliquei também nos pequenos gestos... em certo dia mergulhando na praia do francês vi uma enorme concha (a mais bela de toda minha vida!) e ela era tão linda que sentei nas pedras para visualizar seu esplendor à luz do sol e depois humildemente (na hora lembrando das continhas azuis da Dona Helena costureira mais do que das lições do ambientalismo) a devolvi ao mar mesmo sabendo que talvez alguém acabasse levando-a pra enfeite ou comércio e injustamente desabrigando seu antigo morador!
A Solidariedade eu aprendi na caridade sincera de Mãezinha , que nada tem a ver com o assistencialismo demagógico... ela doava a quem pedisse em nossa porta o alimento que já era tão pouco em nossa mesa! Ela conhecia como poucos a partilha do pão e podia compartilhar a nossa pequena casa (onde eu dormia com ela numa cama na sala!) como abrigo à tolerância religiosa e aos pequenos gestos cotidianos de bondade humana. Nunca ninguém (de pobreza mais extrema que a nossa) saiu da nossa casa sem algo para minimizar sua fome ou angústia!
Hoje é um daqueles dias muito tristes em nossas vidas que ainda nem acreditamos que Mãezinha morreu, mas sabemos que ela está firmemente plantada - como árvore imortal sempre em flores e frutos - em nossos corações!
 

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