Bebês nascidos por meio de parto cesáreo têm 58% mais chances de serem obesos na vida adulta. A constatação é de um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). De acordo com Marco Antonio Barbieri, professor titular do Departamento de Pediatria da faculdade, pesquisador e um dos autores do estudo, os nascidos de cesariana são mais propensos à obesidade quando adultos porque quando a via de parto é modificada, também pode ser alterado o conjunto de micro-organismos presentes no corpo humano, chamado de microbiota.
Segundo Marco Antonio, a literatura médica conclui que quando o bebê deixa de passar pelo canal do parto e é retirado por meio do corte da cesariana, ele perde alguns desses micro-organismos. A falta de certas bactérias boas para o corpo faz com que o metabolismo funcione de maneira diferente. O sistema digestivo absorve mais gordura do que nutrientes.
"Nós temos uma epidemia de obesidade e um epidemia de cesarianas. Do ponto de vista do mercado médico, o parto cesáreo é benéfico para o setor, porque facilita a vida do profissional", afirma o pesquisador. "Por outro lado, foi incorporado nas mulheres uma cultura de que o parto cesáreo é muito melhor. O conjunto dessas situações resulta em várias cesarianas feitas sem necessidade, sem indicação terapêutica."
A cesariana é uma grande descoberta da medicina como método terapêutico, diz Marco Antonio. "Os índices de mortalidade materna e da criança diminuíram muito depois da descoberta do parto cesáreo. Com essa via, é possível identificar, por meio de exames, o sofrimento fetal e fazer o parto a tempo de salvar a vida da mãe e do bebê", esclarece. "Porém, assim como qualquer outra terapêutica ou medicamento, não deve ser utilizado sem a devida necessidade. É a mesma coisa que receitar um remédio para um paciente que não precisa", ressalta o pediatra.
O estudo
Inicialmente, o estudo englobou todos os nascimentos de crianças de Ribeirão Preto (SP) entre os anos de 1978 e 1979 - no total, foram cerca de 7 mil bebês. Dessa amostra, foram selecionados de maneira aleatória 2.060 nomes. A pesquisa foi feita entre os anos de 2002 e 2004, quando os jovens já tinham entre 23 e 25 anos. Mesmo levando em conta fatores como tabagismo materno, condições financeiras, doenças da mãe e de familiares, o estudo identificou que dentro do grupo dos nascidos por meio de cesariana a taxa de obesidade era maior, de 15,2%, enquanto o grupo de jovens nascidos por parto natural tinha uma taxa de 10,4%.
"O estudo constatou que, independentemente dos fatores externos (condições financeiras, mãe fumante, peso ao nascer etc.), o indicador de risco para obesidade na vida adulta é 58% maior nos jovens que nasceram por meio de uma cesariana", explica.
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