No Dia Nacional da Mulher Negra, parabéns para todas nós que cultivamos a resiliência. Persistimos!

25/07/2012 02:39 - Raízes da África
Por Arisia Barros


No início do século XIX, a Rainha Tereza de Benguela comandava o Quilombo do Quariterê, em Cuiabá. No Quilombo de Quaritê, um dos redutos mais famosos de escravos fugidos, Tereza de Benguela, além de rainha era presidenta.
Com mão de ferro a rainha-presidenta, Tereza, estabeleceu barreiras estruturais para que a geografia do racismo não soterrasse a condição “sine qua no” da população negra e indígena: o direito à liberdade.
Por quase duas décadas, a mulher negra, quilombola comandou um exército de homens como elemento simbólico de resistência a massificação do poder do homem, branco católico, dito heterossexual.
A rainha Tereza foi morta após o ataque de bandeirantes e como resultado deste processo histórico, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 23/09, de autoria da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), consagrou o 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, alertando que a situação da mulher negra brasileira deverá ser debatida a cada dia 25 de julho, em todo o país.
Alagoas é a terra da rainha Aqualtune, que como Tereza, confrontou valores da época ao idealizar o Quilombo dos Palmares e ousar contra a hegemonia patriarcal e racista.
O Quilombo dos Palmares é o maior símbolo da resistência negra, nas terras de Cabral.
Somos hoje no Brasil, em torno de 36 milhões de mulheres negras e pardas, mas nosso retrato em preto e branco continua fora da moldura social. Uma parecença com o segregacionismo das instituições contemporâneas.
O estado de Alagoas fica localizado no Nordeste do Brasil. O Nordeste do Brasil é a região brasileira com o maior número proporcional de negr@s, entretanto, a voz da resistência negra simbolizada pelas rainhas Aqualtune e Tereza de Benguela, quase nunca consta na agenda de debates da política brasileira, imagine na alagoana.
Nestes 25 de julho- Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra uma multidão de mulheres negras ou não, em Alagoas, percebem a miséria social, como um esfacelamento da auto-estima. A alma nua e vazia de sonhos. A miséria social no território alagoano estupra diariamente, com a nossa flagrante omissão, milhares de pretas,anlafabetas e pobres.
O racismo é uma violência que segrega, aparta, encapsulando limitações humanas.
Alagoas abrigou em Palmares, a primeira República Negra do Brasil, entretanto muitos engenhos contemporâneos e institucionalizados, ainda fazem uso da ideologia escravagista e promovem a indefectível seleção social e étnica. Mulheres negras e pobres parem e amamentam filhos em chão frio de maternidade superlotada. Santa Mônica!- clamam muitas e tantas e a santa do véu azul se utiliza da voz da profissional indignada: Quantas crianças, ainda, vão ter que morrer?- pergunta a enfermeira que chora?
Quantas?
A saúde para a população materna, negra e pobre é como uma cota na República dos Marechais: Quem  viver e quem morre!
A metáfora do Brasil, como nação miscigenada, que abarca todo mundo sem distinção étnica é uma farsa.
Hoje é Dia Nacional das Mulheres Negras.
Parabéns para todas nós que temos resiliência.
Persistimos!
 

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