Dados revelam que cerca de um terço dos adolescentes do País experimentaram tabaco antes dos 12 anos.

No Brasil o consumo precoce do cigarro preocupa cada vez mais as autoridades e os profissionais de saúde. Estatísticas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que é alto o número de crianças e adolescentes que já experimentaram o tabaco e seus derivados. Os médicos alertam que quanto mais cedo se começa a fumar, maiores são as chances de desenvolver a dependência ao cigarro.

Vigilância de Tabagismo em Escolares (Vigescola). Esse é o nome da pesquisa que está sendo feita pelo Inca para obter informações sobre o consumo de cigarros entre os jovens estudantes e que faz parte de um estudo mundial desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para monitorar o tabagismo em estudantes de 13 a 15 anos, idade média de início do uso do tabaco.

A pesquisa foi criada em 1998 e vem sendo feita em todos os países do mundo. A idéia é repetir o estudo em um intervalo de três anos. Ao longo de 15 anos será possível avaliar a tendência do tabagismo no mundo e a eficácia das ações de controle realizadas em cada país.

A chefe da Divisão de Epidemiologia do Inca, Liz Almeida, afirma que com a realização da pesquisa no Brasil esperava-se encontrar um padrão diferenciado em relação ao tabagismo no País. "As diferenças regionais encontradas fazem sentido com a realidade das regiões que tem maior ou menor atuação na área do tabaco", ressalta a coordenadora.

Alguns dados da pesquisa merecem destaque. Um deles é o que revela o percentual de estudantes que experimentaram cigarro até os 13 anos de idade. O índice de meninos que provaram antes dos 11 anos em Vitória é de 39%, em Boa Vista é de 38%, em Curitiba é de 34% e em Goiânia chega a 31%. "Esses dados revelam que um terço dos adolescentes estão experimentando cigarro antes dos 12 anos", afirma Liz Almeida. "Os dados são um sinal de alerta, pois quanto mais cedo se começa a fumar maiores são as chances de desenvolver a dependência ao tabaco", reforça. Os números continuam a assustar. Em Palmas, Porto Alegre e Goiânia o percentual de estudantes que fumaram mais de 100 cigarros na vida - padrão de dependência definido pela OMS para a população geral - varia entre 35% e 41%.

A pesquisa também monitora o acesso dos estudantes ao cigarro. No país, mais de 75% dos adolescentes que fumam compram cigarro sem nenhuma repressão nos pontos de venda. "É um escândalo, na idade em que são proibidos de comprar cigarro, três quartos dos meninos estão comprando livremente", observa a chefe da Divisão de Epidemiologia do Inca. "A única cidade que tem um percentual menor é Vitória e, mesmo assim, 60% deles conseguem comprar. Percebe-se que há muito a fazer em matéria de execução da lei", comenta Liz Almeida.

Em relação à mídia e à propaganda, do percentual de alunos que viram anúncios a favor dos cigarros nos últimos 30 dias, Porto Alegre se destacou com 87%. Em seguida vem Curitiba, com 84% e Goiânia, com 81%. Atualmente está proibida a divulgação de propagandas na televisão e nas revistas, mas não nos pontos de venda.

Outro destaque da pesquisa é o dado que mostra o percentual de estudantes que tiveram cigarros oferecidos por distribuidores de empresas de tabaco. Em Fortaleza, 14% dos meninos entrevistados receberam cigarros gratuitamente. Em Boa Vista, 13% ganharam cigarros desses distribuidores. Também na capital de Roraima, 12% dos adolescentes ouvidos afirmaram ter recebido objetos com logomarca de cigarros. "Embora aparentemente seja baixo, o dado é escandaloso porque isso não deveria acontecer em nenhum caso. É inacreditável haver estudantes nessa faixa etária recebendo objetos com logomarca de cigarro ou que tenham recebido cigarro gratuitamente de distribuidoras", reclama Liz Almeida.

O alto índice de estudantes com pais fumantes também foi considerado alto na Região Sul. Porto Alegre (RS) se destaca nessa estatística, com 66,4%. O Vigescola mostra que, em geral, a prevalência de experimentação de cigarros é maior no sexo masculino do que no sexo feminino em quase todas as capitais. Apenas em Curitiba e Porto Alegre houve uma inversão dessa relação. Constatou-se que as meninas do Sul fumam mais. Acredita-se que esse aumento está relacionado ao fato da plantação de fumo ser predominante no Sul do Brasil. O alto poder aquisitivo da região também é considerado um fator de influência para o aumento. O Inca levanta ainda como hipótese para o crescimento do tabagismo entre as adolescentes nessas cidades a busca da igualdade com o sexo masculino. "É preciso destacar que não temos isso comprovado, é apenas uma hipótese", assinala Liz Almeida.

O resultado da alta prova de cigarros por meninas no Sul também foi percebido em outros países semelhantes ao Brasil em termos de nível de desenvolvimento econômico. No México, por exemplo, a realização dessa mesma pesquisa em 14 cidades apontou que nas regiões mais desenvolvidas as meninas estão se equiparando ou até mesmo experimentando mais cigarro do que os meninos.