Como Mudar ou Manter Comportamentos (Parte 1)

24/04/2012 19:23 - Psicologia - Gerson Alves
Por Gérson Alves da Silva Jr.
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Todo comportamento é uma ação do organismo frente a uma determinada situação. Mas a maneira que o organismo age gera uma consequência para o próprio organismo. Essa consequência é quem vai determinar se o organismo irá se comportar da mesma maneira ou de outra forma sempre que uma situação semelhante ocorrer. Assim, comportamento nunca é uma ação isolada, é uma reação com precedentes e com consequências que modificam o organismo e o ambiente. Temos então uma formula que pode ser representada da seguinte forma: uma situação -> faz o organismo emitir um comportamento -> provocando uma mudança no meio que terá consequências para o organismo. Resumindo ainda mais essa formula: Situação -> Emissão de Comportamento -> Consequências.

Visto essa primeira parte, pode-se entender que para modificar o comportamento de uma pessoa precisamos modificar a forma que ela se relaciona com os eventos que o precedem e com os eventos que o sucedem. Os eventos que o antecedem são chamados de situação de estímulos, ou simplesmente estímulos discriminativos. Já os eventos que o sucedem são chamados de consequências. O que controla o comportamento não é a pessoa em si, mas os estímulos discriminativos e as consequências que a pessoa recebe ao longo de sua história. As pessoas, por exemplo, fumam porque foram apresentadas a um cigarro numa determinada situação, ou viram alguém fumando de forma que representava status. Daí, essa pessoa diante de modelos que fumam e o reforçam para emitir o comportamento de fumar, passa a fumar. Nesse momento a nicotina e outras substâncias químicas trazem uma sensação de prazer e tranqüilidade, ao mesmo tempo que o grupo que ele participa o admira por fumar. Esse fato aumenta então a probabilidade do sujeito continuar fumando em situações semelhantes, podendo estender depois o mesmo comportamento de fumar em outros ambientes. Note que mesmo o sujeito sabendo que poderá ter um câncer a longo prazo ele terá dificuldades de mudar o comportamento porque as consequências de curto prazo são mais poderosas que as de longo prazo.

Um outro exemplo que podemos dar é de uma pessoa que conta uma piada quando várias outras estão reunidas. As pessoas então riem e esse riso das pessoas será interpretado como uma consequência reforçadora que tenderá a aumentar a probabilidade do sujeito contar outras piadas em situações semelhantes. Veja, a situação de estímulo foi estar num grupo de pessoas, a resposta foi contar piadas e a consequência foi o riso dos demais envolvidos.

Porém é necessário entender que num primeiro momento a situação não representa nada para o organismo. Então uma situação nova não é estimulante para fazer com que o organismo apresente um determinado comportamento que chamaremos de resposta. Imagine a seguinte situação: você ver um circulo com um traço no meio, se você nunca viu, você não dará muita importância e não saberá como se comportar diante dele. Mas, você ver que outras pessoas quando estão diante daquele circulo com traço começam a ficar sorridentes e ficam paradas diante dele. Depois você descobre que todos os locais que possuem aquele circulo são locais de distribuição de rendimentos, bastando para tanto você sorrir, parar e esperar que alguém lhe entregará dinheiro. É de se presumir que haverá uma probabilidade maior do seu comportamento ser o mesmo das outras pessoas quando você ver o círculo da próxima vez. Mas no primeiro momento o círculo não representava nada.

O circulo com o traço no meio, depois de você receber dinheiro porque sorriu e ficou parado diante dele, ou porque viu alguém ser premiado devido se comportar da mesma forma, é para você agora um estímulo discriminativo representado pelo símbolo SD. Ou seja, agora sempre que a pessoa identifica uma situação em que há um circulo com o traço, há uma maior probabilidade de se comportar da mesma forma devido a consequência que obteve num primeiro momento.

Note que no exemplo acima o que faz a pessoa reconhecer o símbolo e se comportar de determinada forma diante dele é a consequência que obtém.

Quando diante de uma determinada situação, que pode ser um símbolo, evento ou uma pessoa, nós emitimos um comportamento, esse comportamento terá uma possibilidade de aparecer mais vezes de modo semelhante diante da mesma situação se a consequência for satisfatória para o organismo. Neste caso diremos que a consequência foi reforçadora. Caso a consequência seja aversiva, haverá uma tendência do sujeito em reduzir a frequência daquele comportamento ou modificar o comportamento, aí diremos que a consequência foi punitiva.

Por exemplo, se uma pessoa comprometida do sexo feminino vai para um show ou festa (essa situação é a situação estímulo: SD), daí, nesse show a pessoa começa a dançar com rapazes e acaba sendo beijada e abraçada. O que ela fez lá foi o comportamento, ou seja, a resposta dela diante da situação estímulo. Caso a pessoa volte a frequentar esses mesmos ambientes estaremos então entendendo que as consequências que ela obteve no primeiro momento foram boas para esta jovem. Mesmo que ela chore e diga para seu namorado que está arrependida, seu desejo de ir para esses ambientes indica que as consequências foram satisfatórias e por isso surge o interesse de participar novamente do mesmo ambiente.

Como essa pessoa do exemplo acima já observa antes que as pessoa vão para esses ambientes e lá se comportam dançando e beijando outras pessoas, não é correto da parte dela alegar que vai para lá para obter consequências diferentes. Também não é coerente alegar que não sabia que aquilo poderia ocorrer lá, quando eventos semelhantes já são propícios a ocorrer em um ambiente daqueles. Podemos dizer que simplismente não era reforçador perceber certos detalhes.

Desta forma, quando as pessoas querem modificar os comportamentos elas não podem simplesmente se comportar de modo diferente. Elas precisam modificar as situações, ou seja os estímulos discriminativos e as consequências que obtém. Do contrário, elas ficarão apenas argumentando que querem mudar, mas não irão mudar. Ah... quase ia esquecendo, a foto das joves malhando é um estímulo discriminativo, a forma que o seu organismo reagirá e as consequências que se seguem dizem muito de sua configuração filogenética, ontogenética e sociogenética. Mas isso será assunto para outros debates.

Assim eu constatei, assim eu conto para vocês.
 

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