Virar Estrela e Esquecer dos Próximos

26/02/2012 17:35 - Psicologia - Gerson Alves
Por Gérson Alves da Silva Jr.
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Quando pequeno perguntei como surgiram as estrelas a minha avó. Ela então contou-me uma história bem interessante. Disse que a muito tempo atrás umas mulheres foram colher milho para fazer bolo para seus maridos. Suas crianças seguiram e roubaram milho do cesto. Levaram esse milho para sua avó e pediram que ela fizesse bolo para elas. Depois para não serem descobertas cortaram fora a língua da avó. Foi quando perceberam que mesmo assim poderiam ser descobertas e por isso decidiram fugir para a mata. Mas, elas foram vistas enquanto fugiam por suas mães que as seguiram. Então as crianças pediram ao guanumbi (beija-flor) que amarrasse um cipó no lugar mais alto que pudesse. Fugindo das mães as crianças começaram a subir pelo cipó, mas as mães continuaram seguindo e também subiram pelo cipó. Porém, as crianças cortaram o cipó e as mães caíram no chão e transformaram-se em animais selvagens. As crianças então ficaram pela eternidade olhando os animais selvagens. Seus olhos podem ser vistos todas as noites no céu, são as estrelas.

A primeira coisa que falei depois da história foi que havia muitos meninos maus no céu. Minha avó então disse: é verdade meu filho, tem muita gente ruim virando estrela.

Já na época achei essa história muito sem sentido e pensei que ela não seria verdadeira. Mas, muitos anos depois me formei em psicologia e meu primeiro emprego foi no sistema penitenciário alagoano, lá eu percebi que a história falava a verdade. Na clínica fui trabalhar com dependentes químicos e vi que a história continuava sendo válida, não apenas para eles, mas para muito mais gente que também pensa ser estrela.

Demorei anos para entender a história e pensei muito se deveria explicar seu significado ou deixá-lo oculto para que cada um descubra por conta própria. Afinal, todos nós em algum momento nos sentimos tentados a roubar o milho que será bolo para alguém. Tentamos então silenciar aqueles que nos ajudam na empreitada e muitas vezes pioramos a situação ou ficamos simplesmente mais malvados. Por fim, resta-nos fugir para lugares selvagens e se ainda assim não resolver queremos ficar nas alturas, por cima dos outros. Se aqueles que nos amam vem atrás nós, cortamos os laços com eles (cipós) e deixamos eles no chão, inferiores a nós. Daí, passamos a nos sentir estrelas e vemos todos os outros, que nos amam e tentaram vir atrás de nós, como animais selvagens ou como burros, bestas e idiotas.

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