Comumente as pessoas se perguntam sobre estratégias de estudos para melhorar o rendimento. Uma questão bastante recorrente é sobre o volume de estudo e a alternância entre disciplinas e conteúdos diferentes. Será que é melhor estudar tudo de uma vez até esgotar o conteúdo da disciplina ou é melhor estudar tópicos de uma disciplina alternando com tópicos de outras disciplinas? Em qual das duas situações o rendimento é melhor?

Evidentemente que a melhoria do rendimento não depende exclusivamente deste fator, mas este é um ponto que pode ser estudado e que com o controle adequado de variáveis podemos chegar a algumas conclusões. Vou narrar aqui dois estudos realizados por mim, ambos com método semi-experimental. Durante os anos de 2004 até 2009 ministrei uma disciplina na graduação e pós-graduação latu sensu, chamada Comportamento do Consumidor. Tanto na graduação como na pós-graduação a disciplina tinha a mesma carga horária e conteúdo programático. A diferença crucial estava no modo em que era distribuída a carga horária para os dois cursos. Na graduação a carga horária de 60 horas ficava dividida em 2 (dois) encontros semanais ao longo de um semestre letivo. Na pós-graduação a carga horária da disciplina era dada em apenas 4 (quatro) sextas e sábados.

Quando depois de um mês os alunos eram questionados sobre os conteúdos, os da pós-graduação mostravam uma compreensão global maior da disciplina, mas não recordavam tópicos e assuntos específicos do mesmo modo que lembravam os alunos da graduação. Todavia, muitos alunos da graduação montavam uma boa definição e conceituação da disciplina logo após relembrarem os tópicos e assuntos específicos trabalhados. Já os alunos da pós-graduação não conseguiam especificar tópicos e assuntos trabalhados de modo significativo após a conceituação global da disciplina. O rendimento após seis meses do termino da disciplina nos alunos da graduação mostrou-se superior em quase 70% quando comparados com os alunos da pós-graduação.

Os resultados mostraram-se praticamente os mesmos quando esta situação passou a ser testada com um rigor um pouco maior em cursos de técnicas de estudos que eu ministro desde o ano de 2000. Os ensaios experimentais foram realizados em três grupos que se processaram entre 2009 e 2010. Nestes grupos se distribuiu conteúdos idênticos para quantidades equiparadas de pessoas e estabeleceu-se controle de idade, sexo e número de horas domésticas dedicadas ao assunto estudado. Neste caso a diferença caiu, mas o rendimento do grupo que estuda pequenos tópicos alternando assuntos de disciplinas diferentes ainda foi superior em mais de 60% ao grupo que estuda todo conteúdo de uma disciplina de uma única vez.

Os dados acima são suficientes para percebermos as vantagens de estudarmos tópicos e assuntos específicos de uma disciplina durante um espaço de tempo maior, do que estudarmos uma única disciplina por completo e só depois passarmos para outra. Mas, ainda existem outras evidências que ratificam os dados supra-referidos.

Acontece que o processo de aprendizagem que gera memória permanente ocorre no córtex por meio de crescimento dendrítico. Assim, para que uma informação possa de fato fazer parte do cotidiano do sujeito ele precisa, além de articulá-la com suas experiências diárias, dar tempo para que o cérebro organize a informação por meio da formação de novos circuitos neuronais. Esses novos circuitos neuronais são formados pelo crescimento dos dendritos que irão se conectar com os botões axônicos de outras células nervosas. O tempo médio para essas conexões serem realizadas por meio do crescimento dendrítico, conforme estudos de neurociências, é de seis horas. Fato esse que corrobora a necessidade de distribuição adequada do tempo para que possa ocorrer a aprendizagem desejada.

Assim eu estudei, assim eu conto para vocês.