Como evitar "o branco" durante as provas?

09/01/2012 02:00 - Psicologia - Gerson Alves
Por Gérson Alves da Silva Jr.
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Com muita freqüência vestibulandos, concurseiros e simples estudantes diante de uma prova experimentam “o branco”. Mesmo cientes de que se prepararam bastante esses sujeitos passam por uma crise de esquecimento que atrapalha o seu desempenho durante o processo avaliativo. Será possível aprender alguma técnica ou trabalhar o emocional de algum modo para obter resultados diferentes durante uma avaliação?

Para responder esta pergunta acima devemos entender primeiro o que é “o branco”. Muitos psicólogos classificam “o branco” como problema emocional ou trava emocional sem detalhar a psicofisiologia do processo. Eles estão certos quando afirmam que é uma trava emocional, mas entender o problema de maneira tão simples não possibilita uma compreensão mais consistente do processo de modo a ser possível intervir e obter resultados mais efetivos. É preciso entrar nos detalhes do funcionamento desta trava emocional e analisar o contexto em que ela aparece e a reação psicofisiológica que é ela em si.

A consciência de tudo que estudamos concentra-se nas áreas mais superiores do telencéfalo, numa área do cérebro chamada córtex. É lá também que se registram a maior parte das informações que adquirimos ao longo do nosso desenvolvimento. Sempre que aprendemos algo novo de forma permanente, e não simplesmente decoramos, as células nervosas, chamadas neurônios, se conectam entre si formando circuitos nervosos nos quais circulam inúmeros impulsos eletro-químicos. Todavia, quando estamos ainda aprendendo o telencéfalo, nas áreas corticais se ilumina quase que por completo procurando registros de algo que se assemelhe aquilo que estamos aprendendo. Essa iluminação é resultado dos impulsos eletro-químicos, chamados sinapses. Uma vez que a informação é repetida por várias vezes em períodos diferentes ou ela se associa a algo que esteja ligado a sobrevivência do sujeito, o cérebro deixa de acender o córtex por inteiro e passa a formar um novo circuito em uma área específica.

Esse fenômeno ocorre porque o organismo prima pela economia de energia. Quando estamos aprendendo o cérebro queima muita energia por funcionar procurando registros em toda a área cortical. Depois que aprendemos formamos um registro específico e o córtex não precisa mais se iluminar (queimar energia) como um todo, bastando acender a área de conexão específica, que fica em pouquíssimos pontos distintos do cérebro.

Temos então uma formula simples: sempre que não conhecemos algo queimamos muita energia, pois precisamos usar mais áreas do cérebro para dar conta do desafio; quando nos deparamos com algo conhecido utilizamos apenas pequenos pontos do cérebro visto que iremos ativar circuitos já existentes (acessar registros já existentes).

Funcionando assim, podemos notar outro ponto importante: quando o indivíduo já conhece algo ele torna-se mais rápido e consegue prestar atenção a coisas diferentes, pois utiliza áreas pequenas e especializadas do cérebro deixando as demais áreas liberadas para se focar em outros detalhes. O contrário ocorre quando estamos aprendendo, visto que, por mais devagar que alguém fale parece que tudo é posto muito rápido e nós não conseguimos prestar atenção em outras coisas ou detalhes importantes, justamente pelo cérebro está todo ocupado.

Entender o que foi posto até agora é importante, porque quando estamos diante de um desafio, como uma prova, uma platéia, uma pessoa superior, podemos sofrer de esquecimento ou ficarmos com dificuldade de raciocínio pela mudança de funcionamento do cérebro. Isso mesmo! Imagine seu cérebro como um carro, sempre que ele está numa pista segura e reta você pode colocar marchas mais altas e ele andará mais rápido queimando menos combustível. Porém, sempre que o carro se deparar com desafios, ele precisará reduzir as marchas para ter mais força, o que também irá aumentar o consumo de combustível e torná-lo mais lento.

Quando nos sentimos ameaçados por qualquer coisa, nosso sistema muda de funcionamento. Desligamos áreas superiores e registros especializados e passamos a funcionar de modo semelhante ao de quando estávamos aprendendo. Isso na verdade é uma medida de segurança do cérebro, pois já que nos deparamos com algo que ele interpreta ameaçador ele desligará aprendizagens mais evoluídas e passará a funcionar acionando áreas mais primitivas. Isso ocorre porque aprendizagens sociais/intelectuais são registros novos que se tornam automatizados, o cérebro interpreta que no risco não é seguro agir de modo automático. Essa interpretação do cérebro se deu por seleção natural. Simplesmente o cérebro veio se programando a milhares de anos para diante das ameaças limitar nossas respostas para duas categorias: 1) fuga e 2) ataque.

Por essa razão quando nos deparamos com uma prova, apresentação, entrevista, etc. ficamos sem respostas intelectuais. O cérebro simplesmente libera impulsos em situações de ameaça que faz o indivíduo, contra a sua vontade, sentir desejo apenas de ir embora, sair ou brigar com o professor, reclamar de modo agressivo, ficar irritado, ou mesmo partir para violência física. Mesmo as respostas sendo variadas de pessoa para pessoa, podendo surgir choro ou mutismo, todas as respostas podem ser entendidas dentro de duas categorias, a necessidade de fugir ou de atacar diante de uma ameaça.

Tal fenômeno se dá porque evoluímos em um ambiente primitivo com animais ferozes e catástrofes climáticas. Nesse contexto evolutivo as respostas que funcionaram ao longo de milhares de anos, e que garantiram a nossa sobrevivência, não foram diálogos lógicos com as feras, mas simples ataques ou fugas. Exatamente isso! Diante de um tigre ou mesmo diante de um furacão, não adianta dialogar ou lembrar conteúdos aprendidos intelectualmente, basta fugir e buscar um lugar seguro ou atacar. O cérebro sabe disto, o que ele não sabe é que hoje nossas ameaças são outras, não são mais feras primitivas ou catástrofes.

Em outras palavras, quando estamos diante de uma prova ou qualquer outra atividade que interpretemos ameaçadora, nosso cérebro mudará o seu funcionamento para um modo mais primitivo, isso independente da vontade do sujeito. O que precisamos fazer então? Já que nossas ameaças hoje aumentam se nos bloquearmos intelectualmente.

O primeiro passo é ter a certeza que este mecanismo de alteração não é perene. Ele não permanecerá funcionando no modo primitivo/aprendizagem o tempo todo. O processo de medo não perdurará mais que alguns breves minutinhos, por isso nosso cuidado deve ser voltado apenas para não hiper-ventilarmos. “O branco” não dura mais que alguns minutos, mas o sujeito pode alterar o seu fluxo respiratório sem perceber e deixar de fazer uma respiração diafragmática. Esse processo leva a ligeiras crises de taquicardia, sudorese, tontura e sensação de morte. Daí, o sujeito fica preso num ciclo de hiper-ventilação e medo. Devemos ter em mente que o oxigênio é fundamental para o funcionamento regular de todas as células de nosso organismo, alteração nas taxas de oxigênio representa alteração do funcionamento do organismo como um todo.

Então antes de uma prova, entrevista ou outra coisa semelhante devemos primeiramente ter essa certeza que qualquer medo ou esquecimento que venha será passageiro. Em seguida atentarmos para fazer uma respiração diafragmática, comer alimentos leves e de fácil digestão, nunca sair com fome ou sem nada ter comido, devemos cultivar pensamentos positivos e lembrar eventos e situações em que fomos bem sucedidos. Por fim, devemos no caso de uma apresentação ou entrevista começar por pontos simples e de difícil esquecimento, tipo o nome, interesses pessoais, etc. No caso da prova, pode-se lê-la por inteiro e ir respondendo aos poucos aquilo que lhe parecer mais fácil. Isso dará tempo ao mecanismo de voltar ao seu estado normal. Nunca, sob hipótese alguma, entregue a prova e saia correndo. Isso gerará um registro ruim no seu cérebro agravando ainda mais o problema.

Assim eu estudei, assim eu conto para vocês

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