O menino morreu com muitas pedradas na cabeça.
As pedras na cabeça do menino estouraram inúmeros órgãos e as esperanças da mãe de vê-lo tornar-se adulto.
O menino foi morto na infância dos sonhos. Sonhava em ser astrônomo.
A mãe do menino dizia- com um riso de puro contentamento no canto da boca- que o seu rebento sonhava alto, por isso tinha tanto orgulho do único varão que a vida lhe emprestou como filho.
A mãe não entende porque o filho morreu antes dela. Dizia a todos que a consolavam: isso tá errado. Era ele que deveria me enterrar, afinal fui eu quem lhe deu vida, sou mais velha e essa história tá sendo escrita de forma errada.
Nas Alagoas da pobreza extrema de tantos e muitos anônimos vestidos de povo e da riqueza compartilhada por uma minoria branca, conservadora, racista e sexista, meninos na sua grande maioria pobre e preta são vistos como quinquilharias baratas.
A extração da vida deles é como uma limpeza étnica narrada como questiúnculas, em cantos de páginas dos jornais.
Os meninos pretos e pobres habitam a periferia das páginas policiais.
O menino era protagonista de uma história desafiante: filho único de uma família humilde vivia uma relação social desequilibrada por ser pobre, preto, morar em uma grota e ter sonhos.
Uma fotografia em preto e branco da mentalidade escravocrata de muitos e tantos habitantes do país miscigênico, o segundo com maior população negra do planeta.
O menino-filho único de sua mãe - morreu com muitas pedradas na cabeça.
As pedras que mataram o menino deixaram a mãe órfã de esperanças.