Dialogar com a história negra buscando suas singularidades e especificidades no contexto histórico do país miscigênico chamado Brasil e com isso lançar bases para a discussão sobre o racismo institucional que permeia as ações estatais é desbravar territórios lacônicos, monossilábicos.
Quando se fala em identidade negra, esculpimos as máscaras da parcialidade, o desejo do “nós” social passa tão somente a refletir a ideologia sustentada por uma necessidade “moral’ de aglutinar dentro de um contexto próprio, os negros “nossos irmãos”, afinal promover uma intensa reflexão sobre as relações de poder na sociedade brasileira mexe com os princípios da linealidade eurocêntrica.
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares, primeiro parque temático da América Latina, oficialmente inaugurado no dia 19 de novembro de 2007, se constitui em preciosa ferramenta para a promoção do conhecimento da historicidade do povo negro. É uma galeria repleta de referenciais históricos, a arte da resistência humana, dos gritos em uníssono: “existimos sim!”, dos nossos valores espirituais, incorporados por muitos e muitas nas alcovas da subalternidade.
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares é o maior parque temático do continente americano. Localiza-se na Serra da Barriga, em Palmares. No mesmo local existiu o mais importante quilombo brasileiro.
O referencial desse quilombo é Zumbi dos Palmares. Zumbi é o herói negro alagoano, precursor da simbologia do que é ter consciência negra. Simbologia essa que criou corpo e hoje estabelece diálogos com os discursos sociais, nos muitos recantos do território brasileiros.
E, apesar de toda nossa história o Brasil ignora Palmares.
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares é uma alternativa ao lugar comum da história contada nos livros didáticos. É um movimento espiral de cultura, educação e turismo. É a ruptura com a imagem marginal dos negros “nossos irmãos” e sobretudo um projeto que trará desenvolvimento, ao estado de Alagoas, por meio do resgate da historicidade negra, possibilitando a geração de emprego e renda.
E apesar de toda historicidade o Brasil ignorou Palmares.
Foi tímida a inauguração do maior complexo da América Latina, eclodiu a força do poder burguês e burocrático. Essa mesma força que demarca etnicamente dentro das
políticas públicas o que é prioritário nas agendas governamentais.Afinal estávamos mesmo em Alagoas? Foi um momento sobre ou com os negros? Em que senzala prenderam a alegria característica máxima do povo africano, consubstanciada pelo afro descendentes? Onde acorrentaram o riso largo e a cantoria que abraça universos nunca dantes abraçados?
Nunca antes na história de Palmares ouviu-se tão claramente o eco dos múltiplos e sutis caminhos percorridos pelo racismo institucional que existe, coexiste com o artificialismo das relações humanas, mas não diz seu nome, criando a tão nossa
conhecida atmosfera do racismo cordial.
Alagoas, este pequeno paraíso cravado em nossa geografia sentimental, e seus afro descendentes reclamam o direito a mobilidade social, para ter o direito de ser.
Como diria o jornalista Luís Mir *povo desfigurado na sua gênese pela ausência de uma redistribuição negociada das riquezas e da participação étnica que nos permitisse consolidar um espaço público e uma sociedade civil ativa.
Somos a terra negra de Zumbi!
Novamente citando jornalista Luís Mir: A escravidão, como modelo econômico, precedeu a qualquer outra discussão ou formulação. Tudo era determinado pelo escravismo; o código tributário, o papel da terra e da agricultura, comércio e relações internacionais, instituições políticas e sociais, aparato policiais e máquina administrativa partidos políticos e sistemas de representação,tudo,absolutamente tudo.
A fundação de uma sociedade moderna-urbana e positiva- feria mortalmente o cativeiro e seus senhores. (...) Sempre que se tentou a transgressão dessa ordem, uma resposta tão violenta quanto necessária foi feita, das formas mais naturais possíveis. A ordem étnica, em sua forma pura, era uma transcendência e um destino manisfesto que não podia ser desafiado, muito menos mudado.
Precisamos trabalhar os elementos tão diferentes e conflitantes dentro da agenda política dos estados da federação. O segregacionismo das idéias ainda nos mantêm presos aos grilhões do círculo social dominante, precisamos nos apropriar da nossa história, ousar a transgressão ao discurso oficial.
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares se bem administrado ressignificará a história negra, econômica e turística do estado alagoano. Portanto cabe a máquina estatal assumir a responsabilidade que lhe cabe neste latifúndio.
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares é a uma pequena África, em Alagoas