A Miscigenação brasileira misturou etnias e segmentou a riqueza dos direitos humanos

26/12/2009 21:23 - Raízes da África
Por Arísia Barros

 
Segundo Mir; (2004,p. 490): violência é o uso extremo de força com intenção deliberada de causar dor ou dano corporal, psíquico, emocionais ou culturais a uma pessoa ou coletividade. Pode ser direta, quando afeta de maneira imediata o corpo e a consciência dos seres humanos ou indireta, quando se faz por meio de estruturas de empobrecimento ou de privações de direitos fundamentais.
Durante três séculos e meio, em nome da ideologia escravocrata que concebia a inferioridade humana como característica do povo negro, o estado brasileiro promoveu estupros em série (senhores donos-da-casa regalavam-se com os corpos das mulheres escravizadas e estas dando luz a milhares de outros pequenos explorados, surgindo assim a tão decantada miscigenação), torturou sem piedade homens, jovens, velhos, mulheres, validou o seqüestro de milhares de crianças, promoveu a exploração sexual infantil;agrediu física e moralmente o povo africano. Privações, modo de vida inadequado, grotões de miséria e a opressão estrutural do estado estabeleceram as bases corrosivas do racismo e da intolerância humana.
120 anos pós-libertação persiste o desafio do estado brasileiro de criar espaços estruturais para a promoção da igualdade social, dentro das especificidades étnicas e éticas. Faz-se necessário abrir caminhos para o enfrentamento do problema. Faz-se necessário a construção de vozes sociais mais participativas e dialógicas. A omissão é fundadora das ideologias esdrúxulas. A sociedade contemporânea se exime do racismo evocando o estado miscigênico, incorporando a exclusão social da população negra como produto da condição econômica e não étnica. A correlação esquemática entre negritude e pobreza estabelece consensos sociais e minimiza discussão sobre racismo.
A construção fenotípica estabelecida por essa mesma sociedade -é fato- limita as possibilidades de ascensão social, condiciona lugares, opções econômicas, segmenta espaços. O racismo dá chancela para a perpetuação da miserabilidade africana em território brasileiro, que ultrapassou gerações e hoje atinge os afros descendentes.
Há enormes desafios a serem transpostos. Trabalhar a identidade negra delineada sob a ótica da opressão do escravismo brasileiro significa o reconhecimento político da existência de um país etnicista e ao mesmo tempo urge pela legitimação dessa positividade para adoção e execução de políticas públicas diferenciadas. Políticas públicas que quebrem essa lógica cruel da desigualdade entre iguais( segundo a Carta Magna todos e todas somos iguais perante a lei).
Trabalhar a violência do racismo e a equidade na divisão de bens e riquezas sociais é promover a incorporação de raciocínios que não camuflem as diversas etnias no contexto histórico-construtor da identidade nacional. É retirar as capas híbridas, os personagens e as inúmeras interpretações que o racismo veste para não dizer o seu nome. Mesmo diante dos avanços políticos o processo social brasileiro, ainda é limitante para ascensão da população negra nas linhas demarcatórias da cidadania.
O edifício social brasileiro é invenção do escravismo. Marcou seu território, os espíritos e determina, ainda hoje,as vias de acesso social e econômico deste país. A territorialização continua seletiva: os recursos nacionais são utilizados a serviço de determinados grupos sociais; as migalhas para a maioria da sociedade (Santos,2000)
O Brasil tem uma lealdade personalista com a versão européia da história brasileira.
 

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