Como conceder tratamento político igualitário a quem vive no olho do furacão das desigualdades sociais?

17/11/2009 19:51 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Em Alagoas, dados do IBGE informam que 47% das crianças analfabetas são negras e 27% pardas. Portanto, analfabetismo em Alagoas não é só um apartheid de classe, é principalmente um problema sócio-étnico. A construção de conceitos estereotipados atrapalha o desempenho escolar da população negra, o que se reflete nos índices de analfabetismo, evasão e repetência. Antes de sermos pessoas, somos diagnósticos críticos. Segundo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) em cada grupo de dez jovens de 15 a 18 anos assassinados no Brasil, sete são negros. A raça também representa 70% na estimativa de 800 mil crianças brasileiras sem registro civil. “Entre os indicadores negativos, os negros só perdem para a população indígena na taxa de mortalidade infantil.” Os números, contidos no relatório "Estudo das Nações Unidas sobre a Violência contra Crianças", mostram que o perfil das vítimas da violência vai muito além da faixa etária. Porque o estado brasileiro- o último a conceder a alforria, o segundo país mais negro do mundo ensurdece a vozes negras dos negros? Como conceder tratamento político igualitário a quem vive no olho do furacão das desigualdades sociais? O estado brasileiro ainda ignora Palmares dos pobres e dos negros. E, como somos maioria nos dois gráficos estatísticos, afirmamos que o organismo estatal ignora o povo negro. Segundo Aristóteles, a definição de sociedade sinonimiza com parceria, partilha de valores. Zumbi, o mais negro dos heróis brasileiros, foi unidade de luta e ao mesmo tempo transformou-se no símbolo de milhares de vozes anônimas gritando basta a exclusão. Zumbi fez escola e hoje a lei nº10. 639/03 sinaliza para uma clara reflexão político-pedagógica do todo social.
Acreditamos que a aplicabilidade da lei em todas as escolas alagoanas - uma obrigatoriedade dos órgãos competentes de estados e municípios abre janelas e portas para a um processo de humanização, socialização e singularização do currículo escolar. Abre portas para a construção da cultura de grupo e de pertencimento étnico. E, aí muitas meninas e meninos negros, brancos, ciganos, indígenas Fransciscos, Josés, Wallaces, Isabel, Marias, se sentirão acolhidas, incluídas e visibilizadas na história de Alagoas, que na sua grande vertente, é uma história negra.
Cabe ao estado alagoano implementar políticas públicas como canal de diálogo, democratização do conhecimento e construção de processos de incorporação étnico-cultural, afinal estamos no mês da Consciência Negra, mês do herói Zumbi, mês de todo anônimo e anônima que luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Dagô Francico! Axé Zumbi!

 

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